Até uma certa idade, nossos desejos são a longo prazo. Pensamos de forma grandiosa, extensiva, intensa. Tudo que é importante fica muito importante. O que é intenso, muitas vezes, acaba ficando pesado. As características se tornam exigências, como se fôssemos capaz de ter do mundo o que a gente acha certo. Perde-se muito tempo e energia. A sorte é que somos assim quando jovens, e temos mais energia por natureza.
Com o passar dos anos, tudo começa a mudar. A primeira coisa que muda é a nossa (real) necessidade de paz. Pode reparar; a maioria das pessoas a sua volta, com mais de 30 anos, respondem “paz” quando perguntadas do que mais desejam para a vida. Eu sou uma delas. Minha paciência com assuntos aleatórios (e que muitas vezes nos consomem muita energia) caiu assustadoramente. Passei a ser mais sincera, e menos insistente; inclusive para as minhas próprias discussões internas. Pensar, polemizar, causar cansa. A gente vai cansando de gastar tanta energia em tanta coisa.
A grande verdade é que a gente se torna seletivo. Por exemplo, no começo, você quer que todo o mundo goste de você. Depois você entende que isso é impossível. Só pede uma dose de respeito (caso não goste), e vida que segue.
As polêmicas em torno de “eu não tenho a mesma importância na vida dela como ela tem na minha” diminuem drasticamente. A coisa funciona mais ou menos assim: "olha, não sei você, mas eu gosto de você”. Não tem mais aquele sentimento “ah, eu não vou falar que gosto de fulano… vai que ele não gosta tanto de mim.. Aí vai ficar sabendo que eu gosto dele…”. Se não gostar, que merda. Mas paciência. Pelo o menos a mensagem é sincera e clara: "eu gosto de você. Se você gostar de mim, ótimo. Vamos nos falando. Caso contrário, é só não me procurar. Silêncio também é resposta”. A mais dura das respostas. Mas, sem dúvida, é resposta. E com ela, eu me entendo.
Nada que não é genuinamente recíproco sobrevive. Não adianta gostar sozinho, insistir sozinho, semear sozinho. A reciprocidade é o caminho da eternidade.
Nada que não é genuinamente recíproco sobrevive. Não adianta gostar sozinho, insistir sozinho, semear sozinho. A reciprocidade é o caminho da eternidade.
Outra coisa que muda é a sua capacidade de tentar infinitas vezes. Ela passa a ter limite. Você tenta uma, duas, três e pronto. É bem verdade que o limite das pessoas varia muito. O meu é infinitamente maior do que de muita gente. Mas mesmo sendo um limite distante, ele existe. E mais que isso, ele chega. E quando ele chega, você consegue falar aquela frase tão corriqueira - “Eu tentei de tudo, mas não consegui”- sem sentir remorso. Ela não soa como derrotismo. É bem verdade que ainda sentimos muito pelo ocorrido, mas quando sabemos que fizemos todo o possível, a tranquilidade, mesmo que triste, prevalece.
A verdade é que da maturidade vem a aceitação do seu limite. Da aceitação do seu limite vem a noção real de liberdade. E da noção real de liberdade vem a verdadeira paz.
Desistir muitas vezes é optar por ser livre. Pouquíssimas causas merecem tentativas eternas, assim como pouquíssimas pessoas merecem tantas chances na sua vida. E, se alguém merece, esse alguém certamente é você. A gente pode, e deve, desistir do que nos desgasta. O que não dá é para desistirmos de nós mesmos.
O ano tá acabando… Esse é o momento certo para a gente pensar e avaliar o que realmente vale a pena levar adiante, e o que pode (e deve) ser deixado pra trás.