quarta-feira, 8 de abril de 2015

Um não à aviação

A vida anda corrida. Por isso, os papos com Dona Nanci têm sido mais breves e menos "descontraídos". A gente se fala todos os dias, mas muitas vezes em poucos segundos de ligação ou por mensagem. Coisas da vida moderna. 


Mas hoje sai do trabalho num horário educado e consegui ligar com calma pra ela. Falamos por uns 20 minutos e, claro, o papo rendeu esse post. UFA! A verdade é que eu tava sentindo falta dos papos descontraídos com a minha mãe. 

Começamos falando da vida, do trabalho, do dia... Depois chegamos a um assunto que ainda não tínhamos discutido. Sem dúvida por causa de falta de oportunidade porque a gente adora discutir assuntos polêmicos. O assunto foi a queda do avião alemão.
Minha mãe está inconformada até hoje.

- Como assim, Marina? Ninguém avisou que esse rapaz não poderia pilotar? Gente.... O cara tava mal, tinha 27 anos.... Como o outro sai e deixa ele sozinho na salinha de pilotagem?
- Ué, mãe, mas o cara não podia ir ao banheiro?
- Mas, Marina, sair e trancar a porta? Como assim essa porta só abria por dentro? Não tinha um segredo, um massete, qualquer coisa? Que isso.... Falaram que é por causa de terrorismo. Mas, o que adianta, gente? Protege do terrorista e mata cento e tantas pessoas? Dois bebês, Marina!!!!!!
- É, muito triste. 
- Mais que isso, criminoso. Acho um absurdo isso tudo. Na verdade eu acho que deviam acabar com esse negócio de aviação. Chega.
- Como assim, mãe? E como a gente ia se deslocar?
- Ué, ônibus. 1001. Eu sempre disso que é a melhor forma. 
- Mas, mãe, ir a Londres de 1001?
- Aí que tá! Não tem que ir a lugar nenhum! Cada um na sua e pronto. Que voar o quê? Para com isso, gente! Tá dando errado.... Ninguém tá percebendo isso? Toda semana tem algum acidente. Olha o filho do Alckmin... Que absurdo. 
- É, muito triste aquilo.
- É, mas não adianta ficar lamentando depois não. O filho do Alckmin, por exemplo, foi chamado para testar sei lá o que no helicóptero. TESTAR? Oi?? Se alguém me chamasse pra testar um helicóptero eu não ia meeeeeesmo. Seis pessoas pra testar o troço lá? Ahhhhh, gente. E olha que o helicóptero tinha sei lá quantas horas de vôo, o piloto também... Porque eles sempre falam isso, né? Acho que é pra reforçar que foi uma fatalidade. Fatalidade??????? Toda semana???? Pelo amor de Deus, gente.

Eu comecei a rir...

- Você ri, né? Não tem graça, Marina. Tava aqui falando com o Waldyr (meu padrasto), e ele disse que de carro os acidentes são mais numerosos. Mas eu não tô falando de carro, e sim de ônibus. Transporte coletivo. 1001. Raramente você vê um acidente de ônibus.
- Mas, mãe...
- Marina, pra mim, não tem mais essa. Chega de avião. Um monte de gente junta, num troço fechado, a quilômetros do chão, com um bando de regras duvidosas, sem um controle efetivo... Tô fora. Faz o favor de evitar também, tá?

Me calei e só disse "tá".
Fazer o quê? Nesses momentos é inútil tentar convencer a Dona Nanci. 





segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Por um mundo melhor

De repente, era dia 26 de Dezembro e eu estava viajando pra um destino que jamais achei que pudesse ir: Miami. É bem verdade que Miami Beach é bem diferente da Miami "tradicional", onde ficam os famosos shoppings e outlets e muitos brasileiros se hospedam pertinho deles com o único objetivo de compras. Mesmo assim, Miami e Miami Beach estavam no mesmo saco pra mim: lixo. 

Até meus 32 anos, "Miamis" nunca estiveram na minha lista de destinos a conhecer. O motivo? Preconceito. Posso citar vários porquês coerentes e verdadeiros, mas o principal era o preconceito. Pra mim, Miami era o lugar do novo rico e das pessoais mais fúteis do mundo. E é, mas não é só isso. Encontrei um lugar com diversos pontos super interessantes, além de ser bem próximo a Cuba. :P

Por “N” razões, ir para Miami foi a opção escolhida de viagem de Reveillon. Entrei naquele avião super ressabiada. Olhava todos que estavam no avião comigo de forma pejorativa. Eu não tinha aceitado a ideia de estar indo a Miami. Essa é a verdade. Meu marido ficou chateado porque, afinal, era uma viagem de "férias". Eu só consegui pedir a ele que tivesse um pouco de paciência e me desse um pouco de tempo. 

Não vou me estender tanto porque o objetivo do texto não é falar de Miami. Mas me surpreendi. É claro que Miami não é um destino cult (apesar da cidade está com um viés bem voltado para o lado cultural de uns anos pra cá), mas sem dúvida é um destino muito bacana pra quem quer curtir praias tranquilas com água quente e clarinha, comer bem (porque é um lugar onde a boa gastronomia está bem presente), andar muito de bike, e poder frequentar todos os lugares de forma bem despojada. Pra mim, que odeio shopping, não tem coisa melhor que poder entrar numa loja com roupa de praia e de havaianas. No Rio é assim, mas acho que em Miami Beach é ainda mais. A integração entre a praia e "social" é ainda mais harmônica. Naturalmente harmônica. Tipo Búzios.

Um dos lugares que mais gostei em Miami foi Wynwood Art District, que é um bairro de galerias de arte. É uma overdose da tão atual famosa "arte na rua". Praticamente todas as paredes do bairro tem pinturas de artistas (conhecidos e não conhecidos). É simplesmente incrível. Parece que você está dentro de um mundo de fantasias. 

Voltei com uma percepção totalmente diferente de Miami (Beach). É um destino bacana, que te oferece diversos tipos de programas em um só lugar. A região é muito habitada por "chicanos", o que nos permite sentirmos mais "em casa". Definitivamente, me surpreendi. E fiquei feliz por isso. Mudar de ideia, muitas vezes, só nos mostra como estávamos equivocados nos julgamentos que costumamos fazer. E, mesmo sendo pessoas com uma criação ideológica bacana, temos preconceitos. E muitas vezes os carregamos conosco a vida inteira. Por insistência ou por ignorância mesmo. 

Precisei quebrar um preconceito para entender que qualquer viagem vale a pena. É um novo lugar, uma nova cultura (ou uma grande mistura de culturas diferentes como NY, e Miami mesmo), um novo olhar sobre aquilo que você está vendo e o que julgava ser. A verdade é que toda experiência joga a gente pra frente, mesmo que seja pra ver que muita gente ainda está andando pra trás.

Logo que voltei de viagem, aconteceu o triste atentado ao jornal Charlie Hebdo. Fala-se muito em um mundo menos preconceituoso e mais democrático, mas muitas das pessoas que estavam indignadas com o atentado eram as mesmas que enchiam a boca pra chamar os muçulmanos de terroristas. 

A verdade é que a ignorância é altamente perigosa. Assim como o preconceito. Mas, pra mim, o pior de tudo é a falta de consciência das pessoas em serem ignorantes e preconceituosas. Eu tenho preconceitos. Sou ignorante em muitos assuntos. Mas já entendi que preciso lutar contra ambos. Diariamente.

De novo, um ano cheio de paz e consciência pra todos nós.  



segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Que Venha 2015.

Vai parecer conformismo o que vou dizer, mas tenho certeza que a maioria vai entender: com o passar dos anos, muita coisa vai perdendo importância na nossa vida. Essa frase parece pessimista mas não é. Muito pelo contrário. 

Até uma certa idade, nossos desejos são a longo prazo. Pensamos de forma grandiosa, extensiva, intensa. Tudo que é importante fica muito importante. O que é intenso, muitas vezes, acaba ficando pesado. As características se tornam exigências, como se fôssemos capaz de ter do mundo o que a gente acha certo. Perde-se muito tempo e energia. A sorte é que somos assim quando jovens, e temos mais energia por natureza. 

Com o passar dos anos, tudo começa a mudar. A primeira coisa que muda é a nossa (real) necessidade de paz. Pode reparar; a maioria das pessoas a sua volta, com mais de 30 anos, respondem “paz” quando perguntadas do que mais desejam para a vida. Eu sou uma delas. Minha paciência com assuntos aleatórios (e que muitas vezes nos consomem muita energia) caiu assustadoramente. Passei a ser mais sincera, e menos insistente; inclusive para as minhas próprias discussões internas. Pensar, polemizar, causar cansa. A gente vai cansando de gastar tanta energia em tanta coisa. 

A grande verdade é que a gente se torna seletivo. Por exemplo, no começo, você quer que todo o mundo goste de você. Depois você entende que isso é impossível. Só pede uma dose de respeito (caso não goste), e vida que segue. 

As polêmicas em torno de “eu não tenho a mesma importância na vida dela como ela tem na minha” diminuem drasticamente. A coisa funciona mais ou menos assim: "olha, não sei você, mas eu gosto de você”. Não tem mais aquele sentimento “ah, eu não vou falar que gosto de fulano… vai que ele não gosta tanto de mim.. Aí vai ficar sabendo que eu gosto dele…”. Se não gostar, que merda. Mas paciência. Pelo o menos a mensagem é sincera e clara: "eu gosto de você. Se você gostar de mim, ótimo. Vamos nos falando. Caso contrário, é só não me procurar. Silêncio também é resposta”. A mais dura das respostas. Mas, sem dúvida, é resposta. E com ela, eu me entendo. 

Nada que não é genuinamente recíproco sobrevive. Não adianta gostar sozinho, insistir sozinho, semear sozinho. A reciprocidade é o caminho da eternidade. 

Outra coisa que muda é a sua capacidade de tentar infinitas vezes. Ela passa a ter limite. Você tenta uma, duas, três e pronto. É bem verdade que o limite das pessoas varia muito. O meu é infinitamente maior do que de muita gente. Mas mesmo sendo um limite distante, ele existe. E mais que isso, ele chega. E quando ele chega, você consegue falar aquela frase tão corriqueira - “Eu tentei de tudo, mas não consegui”- sem sentir remorso. Ela não soa como derrotismo. É bem verdade que ainda sentimos muito pelo ocorrido, mas quando sabemos que fizemos todo o possível, a tranquilidade, mesmo que triste, prevalece.

A verdade é que da maturidade vem a aceitação do seu limite. Da aceitação do seu limite vem a noção real de liberdade. E da noção real de liberdade vem a verdadeira paz. 

Desistir muitas vezes é optar por ser livre. Pouquíssimas causas merecem tentativas eternas, assim como pouquíssimas pessoas merecem tantas chances na sua vida. E, se alguém merece, esse alguém certamente é você. A gente pode, e deve, desistir do que nos desgasta. O que não dá é para desistirmos de nós mesmos. 

O ano tá acabando… Esse é o momento certo para a gente pensar e avaliar o que realmente vale a pena levar adiante, e o que pode (e deve) ser deixado pra trás. 

Feliz ano novo. Um 2015 cheio de paz.





domingo, 23 de novembro de 2014

Nos embalos de sábado à noite.

Sábado à noite, o telefone toca.


- Oi, filha. Tudo bem?
- Tudo, mãe. E aí?
- Tudo bem... Eu comprei um livro virtual na Saraiva. Menina, não consigo ler...
- Ah, deve ter que baixar algum aplicativo.
- Aplicativo? Eu baixei um tal de Saraiva Reader. 
- É isso.
- Mas não funciona, Marina. Já liguei, já reclamei... Não consigo. Agora me chega um email aqui da Saraiva com umas 10 perguntas para me ajudar. A primeira pergunta é qual o modelo do meu computador. Pelo amor de Deus, né? Até parece que eu sei isso....
Outra: "qual seu login no aplicativo?". Aplicativo?? Eu desconheço esse nome, gente...
- Mas, mãe, vc não disse que baixou?
- O Saraiva Reader? Isso é o aplicativo? Eu sei lá! Eu só quero saber onde eu leio o livro que comprei. Tá escrito lá "disponível para download". Mas, Marina, a setinha NÃO CLICA!! Como assim?? Eu não encontro o livro que comprei.....
- Mãe, olha só....
- Ah, quer saber, a gente tenta ser moderna, acompanhar a evolução da tecnologia, mas esse povo não ajuda. Brincadeira esse email... Eu simplesmente não sei o que responder a essa moça. Vou colocar assim: Olha, eu não sei nada do que vocês estão me perguntando. Só quero ler o livro que comprei, POR FAVOR."
- Mãe..... - eu já não conseguia falar.
- E outra, a mulher fala aqui no email que poderia me ligar na segunda-feira. Mas  o que eu vou falar com ela, meu Deus? Eu não sei responder nada do que ela quer saber... Ah, não quero que ela me ligue. Que saco. Marina...?!

Eu realmente não conseguia mais falar.

- Ihhhh tchau, Marina. Se não ajuda, não atrapalha. FUI. 
E desligou. 

Fiquei rindo sem parar por mais uns 20 minutos. 

Se eu pudesse eu promoveria o encontro de Dona Nanci com o mestre Woody Allen. Não sei por que mas acho que os dois se dariam bem... Não concordam?



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Na levada do AMEX...

Minha mãe recebeu um novo cartão de crédito do AMEX. A cartinha que veio junto com o cartão dizia que era preciso ligar para a central do cartão para desbloquea-lo. Ela fez isso.

Lá estava ela cumprindo o normal (e chato) procedimento de confirmação de dados pessoais para provar que você é você mesmo.

- Sim, Nanci Cherfen, sou eu.
- O que, o endereço? Rua Conselheiro Lafaiete X/Y. 
- …..
- Que? Como assim? Vou falar de novo: Rua Conselheiro Lafaiete X/Y. 
- ….
- Como assim, minha filha? Você está duvidando da informação que eu tô dando? Eu sei muito bem onde moro…

Eu estava ao lado, sentada no computador. Mas já tinha entendido tudo que estava acontecendo. 

- Minha filha, qual o endereço que está cadastrado aí?
- …..
- Ué, como não pode dizer???? É o MEU ENDEREÇO!!!!!

Ela, que já fala alto, já estava gritando…

- Mãe, calma…
- Marina, olha isso! A moça está falando que eu não sou eu!! Minha filha, eu sou eu!!!!! Nanci Cherfen!!! Moro na Rua Conselheito Lafaiete X/Y!! Que endereço está aí? Se não está esse, minha filha, está errado! Você tá duvidando da minha sanidade, é?
- ….
- MARINA!! Ela tá falando que eu não moro aqui… Fala pra ela, Marina!

Coloquei no viva voz…

- Oi, moça. É a filha dela. Mas não sei se está cadastrado aí que ela tem filha não, viu? Ela mora nesse endereço sim… 
- Mas, infelizmente, o endereço não bate com o que está cadastrado no sistema, senhora. 
- Nesse caso, se faz o que?
- Infelizmente, abrir um pedido de análise.
- AHHHHHHH MEU DEEEEEEUS – gritava Nanci do lado de cá.
- Calma, mãe!!!!!!!! Mas moça, isso é um absurdo! O retorno demora quanto tempo?
- Até 5 dias úteis, senhora.

Nanci assumiu a ligação de novo:

- Ahhhh minha filha, vocês estão de palhaçada… Não quero mais nada não, ok? Pode inclusive cancelar esse cartão. Tchau.

E desligou.

Dois dias depois, o AMEX ligou informando que houve um erro interno e que o cartão estava desbloqueado. Ela repetiu essa história inteira pro atendente que ligou, mas acabou tudo bem. 





quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sobre ser taurina

Desde pequena, eu ouvi que demonstrar afeto, quando realmente existe afeto, é uma coisa legal. Pro taurino, ser óbvio não é difícil. Ele é naturalmente transparente. Se ele gostar de você, você vai saber na hora. Se não, ele até disfarça mas se mantém notavelmente afastado. 


Acontece que o taurino tem uma característica que, até outro dia, eu achava bem positiva. A gente conhece as pessoas de peito aberto. É muito raro você encontrar um taurino que fale gratuitamente: "não fui com a cara dele". É um signo de pessoas abertas a conhecerem pessoas novas, e sempre partem do principio que são pessoas que podem valer a pena. Eu sempre curti isso no meu signo. Dentre tantas características complicadas, essa sempre me agradou. Eu gosto de conhecer pessoas, gosto da comunicação entre as pessoas, gosto da essência que torna o ser humano um bicho sociável. 

Mas, de uns tempos pra cá, conforme vai vivendo, você entende que partir do princípio que as pessoas são essencialmente bacanas pode te trazer surpresas bem desagradáveis. E ai, você começa a entender que não dá pra sair curtindo qualquer pessoa que você conhece. Que mais vale ficar na sua, ir conhecendo bem aos poucos e, se realmente valer a pena, você vai se soltando. 

Pra um taurino isso é um puta desafio. Ser mais ou menos não faz parte da nossa essência. Mas isso não é um elogio não. Ser desse jeito tem um preço, e alto. A gente toma muita porrada por ser assim. Aí, aos poucos, a gente vai ficando mais ressabiado, mais contido, mais desconfiado, mais neutro.

Eu tenho me tornado uma pessoa mais neutra de uns tempos pra cá. Ninguém gosta de ficar tomando porrada, concorda? E vou te contar, o mundo tá cheio de pegadinhas... 

Na tentativa de ser neutro, o taurino tende a se fechar. Desconfia. Mantém o pé atrás. Ou quase os dois. Ou acaba cobrando pra tentar se garantir. Demonstra menos afeto. Se relaciona "mais ou menos". Tudo que ele não sabe essencialmente fazer. 

Costumo falar que se relacionar é uma arte. Mas se relacionar com tanta cautela, pro taurino, é uma arte abstrata. A gente quando gosta, GOSTA. Quando é amigo, É AMIGO. Quando chora, CHORA. Quando erra, SE CULPA. E pede desculpa. E se explica (até demais). A verdade é que o taurino é ou não é. A gente pode até aprender a ser ponderado. Mas essa é, sem dúvida nenhuma, uma característica nata do aquariano.

O mundo tem me "exigido" a ser "mais ou menos". E a verdade é que, sendo mais ou menos, a gente acaba ficando menos a mercê do que os outros são ou não são. Dói menos. Mas se vive menos também. 

Em todo taurino existe uma vontade imensa de ser intenso, de mergulhar fundo, de ser verdadeiro, de deixar tudo muito bem explicado. A gente é fã da demonstração de afeto genuína e julga impossível haver qualquer tipo de perda nesse tipo de demonstração. Pro taurino, viver é expressar o que sente, seja por palavras, por ações, por atitudes ou, dificilmente, por silêncio. 

O mundo insiste em me provar que ganho mais sendo "mais ou menos". Mas confesso, do fundo do meu coração taurino, que ainda me questiono bastante se vale a pena. 




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Eu, Marina, e o copo de bebida alcoólico na mão.

Até os meus 27 anos, eu era uma jovem que não bebia. Quer dizer, bebia muuuuuuuito raramente, e era capaz de ficar altinha com 1 Smirnoff Ice (eta fase barata!!). 

Namorei durante 8 anos, e só comecei a beber (mesmo) depois que fiquei solteira. Você começa a sair, ter que ficar de pé até quase de manhã...
É bem verdade que isso sempre foi algo super possivel no meu caso, mesmo sem álcool. Mas, verdade seja dita, que com ele tinha se tornado uma missão bem mais simples, tinha. 

Pra uma mãe, ter uma filha (única) de 27 anos que não bebe é quase uma dádiva, concordam? Dona Nanci demorou muito a aceitar que a filhinha dela tinha começado a beber aos 27 anos. Principalmente porque ela não bebe. Ou melhor, bebe só aquelas bebidinhas que são praticamente uma sobremesa com zero 0,1% de álcool. 

Já meu pai sempre me dizia:

- Minha filha, tem que beber um pouco... Nem que seja socialmente.... Que isso...

Minha mãe exterminava meu pai quando ele dizia isso perto dela. 

Voltando. Quando uma pessoa fica solteira, é mais do que natural que ela comece a sair, estar mais com os amigos, postar mais fotos "de galera" no facebook, concordam? É bem verdade que hoje em dia o Face anda meio chato, mas "naquela época" era uma super novidade. Principalmente pra mim, que entrou no Face também depois de ficar solteira.

Vocês devem estar pensando: essa daí foi viver a vida depois que ficou solteira. Não é bem por aí... Mas é bem verdade que descobri muita coisa a partir dos meus 27 anos. 

Eu saia com a minha irmã, de 16 anos. De de certa forma, estavámos passando por fases bem parecidas. Sendo assim, volta e meia "aparecia" uma foto minha no Facebook segurando alguma bebida. Totalmente normal, acho eu. Mas pra minha mãe, não. 
Era eu postar uma foto....

Triiiiiimmmmm
- Oi, mãe.
- Alô, Marina? Marina, você tá me ouvindo???
- Mãe, tá meio barulho... Eu tô no samba, que foi? Tá tudo bem!
- Marina, Marina....?!

Eu desistia e ia prum lugar que a conseguisse ouvir.

- Fala, mãe. 
- Marina, olha..... Eu vou ser direta, sabe? Eu vi aqui uma foto sua no Facebook.... Sinceramente...
- O que, mãe?!?!
- Olha, Marina... Sinceramente, eu não acho legal você ficar postando foto segurando copo com bebida álcoolica na mão não....
- Ah, mãe, pelo amor de Deus!!!! É só uma caipirinha!!! Eu tô no samba, tá tudo bem!
- Olha, eu não concordo. Acho que não precisa disso....
- Tá bem, mãe. Tá bem. Não vou mais postar (hoje).

Ela desligava, como sempre, na minha cara. Devia perder a noite pensando na foto do Facebook....  Eu realmente evitava mais fotos naquele dia. Mas só naquele dia, porque no outro já tinha esquecido.

Aos poucos, dona Nanci foi relevando as postagens com "copo de bebida alcóolica na mão". Até que, na inesquecível festa de 10 anos de formatura do colégio alguém postou uma foto minha, com as minhas amigas, segurando uma capirinha (era a única bebida que eu curtia no começo). Meu chefe da época comentou:

- Quem te viu, quem te vê.

Quem me conhecia tinha entendido. Eu realmente tinha mudado bastante, mas era unânime a minha mudança pra melhor. Eu entendi perfeitamente o que ele quis dizer quando escreveu aquela frase. Eu realmente estava numa fase muito importante da minha vida. Não tinha a ver com a bebida ou com qualquer outro ponto externo a mim. Era algo interno, eu comigo mesma. Era o meu momento.

Mas, claro, minha mãe interpretou super mal.

Triiiiiimmmmmmmmm, Triiiiimmmmm, TRIIIIIMMMMMMMMM....

- MA-RI-NA, você está me ouvindo direito? Vai prum canto AGORA... Você viu o que o Sergio comentou na foto, Marina?!?! Ahhhhhhh Meu Deus.....
- Hahahahahahahah, mãe...
- MA-RI-NA, você tá rindo? Eu não acho a mínima graça... Ele é seu chefe, Marina... Imagina o que ele deve estar pensando....!!!!
- HAHAHAHHAHAHHAHHA
- Realmente.... eu não concordo.
- Tá bem, mãe.... Mas eu entendi o comentário dele.
- Sei...... Bem, tchau.

E desligou na minha cara, como sempre fez e faz até hoje. Confesso que eu espero que ela faça pra sempre, porque já acostumei. Não conseguiria mais ouvir um: "Tchau, filha, um beijo". Não dá. Tem coisas que se mudarem depois de muito tempo causam um estranhamento imenso. Dispenso.

O tempo passou... Hoje ela vê fotos minhas com "copo de bebida alcoolica na mão" e o celular não toca mais. Eu aposto que o coração dela não sorri, mas ela já aceitou ter uma filha de 32 anos que bebe. UFA!

Em 2010, na festa de 10 anos de formatura do colégio.