domingo, 1 de junho de 2014

Marina, a irresponsável.

Meu primeiro estágio foi num escritório de Design no Centro do Rio, na Avenida Presidente Vargas. Eu saía da faculdade direto pra lá. Almoçava qualquer coisa pelo Centro mesmo. Ou então, um sanduíche dentro do ônibus. Vida de estagiário.... Quem nunca?

Fiquei quase 1 ano nesse escritório, e lembro que peguei vários daqueles dilúvios que caem no meio da tarde e inundam as ruas até o joelho da gente. Quem mora no Rio sabe: a cidade para.

Quando isso acontecia na hora de eu ir embora, eu esperava um pouco a situação melhorar. Mas em alguns dias eu tive que sair. 
É sobre um desses dias que eu vou escrever hoje.

O prédio do meu estágio ficava em frente à Estação Uruguaiana, do outro lado da Presidente Vargas. Cá entre nós, eu adorava trabalhar ali. Eu adoro o Centro do Rio, mesmo com todo aquele furdúncio recorrente. Minha mãe foi criada no Centro e eu nasci na maternidade Promatre, também no Centro. Talvez por isso eu goste.

Bem, desci e consegui atravessar a Presidente Vargas. Fui até as escadas da estação Uruguaiana e parecia um rio. Andei até a Rio Branco, que estava cheia até o meu joelho. Voltei. Esperei uns 20 minutos e resolvi enfrentar as águas das escadas da Uruguaiana.

Deu tudo certo. Cheguei e entrei direto no terminal. Como eu costumava pegar o metrô na volta, sempre mantinha o cartão do metrô carregado. Isso salvava a minha vida na maioria das vezes, porque a fila dos guichês do metrô às 18:30 no Rio de Janeiro são quilométricas.

Por incrível que pareça, entrei no vagão facilmente e consegui sentar. Toda encharcada, mas aliviada porque ia descer super perto de casa. Ufa.

O celular toca. Toda confusa com o material de faculdade, bolsa, guarda-chuva, não consegui atender. Toca de novo. 

- Alô.
- Marina????
- Oi, mãe. Ufa...
- Onde você está? Vi que no Centro está tudo cheio..... Espera melhorar.... Não sai do trabalho.
- Mãe, já sai. Não dava pra enfrentar a Rio Branco, mas consegui pegar o metrô. Já já tô em casa.
- O quê????
- Mãe, tô no metrô. Tá um caos mesmo... Mas consegui pegar o metrô.
- MA – RI – NAAAAA! Você só pode estar brincando!!!!! - a fala era realmente pausada.
- Ué, mãe, por quê??
- MARINAAAAA, pelo amor de Deus, um dilúvio desses e você vai pro metrô???? Será que você não aprendeu que, quando chove muito, a gente tem que se manter em cima e não ir pra baixo...?!
- Mãe.......
- Olha.... I- NA-CRE-DI-TÁ-VEL.....Uma garota inteligente fazer uma coisa dessas.... O metrô virando rio e você... entra no rio....!
- Mãe, a Rio Branco que estava um rio.... Não tinha como ser de outro jeito...
- Ahhhhhhhh, Marina..... (com aquele tom de quando eu tinha 6 anos e aprontava alguma coisa que ela não gostava).
- Mãe, falamos em casa, tá?
- Onde você está?
- No metrô, meu Deus!
- Mas onde?? Comprando bilhete?
- Não, mãe. Já no vagão, indo pra casa....
- O queeeeeeeeeeeeeê?
- Você está usando o celular dentro do metrô?
- Ué, mãe, tô.... Pode usar.
- Olha, Marina, SIN-CE-RA-MEN-TE...... Se você quer arriscar a sua vida, problema seu. Agora colocar a vida dos outros em risco????

Eu já não conseguia falar direito de tanto rir. E, claro, as pessoas me olhavam assustadas.

- Mãe... Deixa eu te explicar... Pode usar!
- Ahhhhh sei, sei.... Se não pode em avião, por que vai poder no metrô? Ah, MEU DEUS...

Eu não conseguia mais falar nada.

- Olha, Marina..... TCHAU.

E desligou o telefone. Claro, voltei a ligar.
Chamava.... chamava.... chamava... e caía.
Eu insistia....
Chamava.... chamava.... chamava... e caía.
De novo...
Chamava.... chamava.... chamava... e caía.
Até que...

- Marina, para de ligar! Eu não vou atender. Irresponsável!

E desligou. Voltei a ligar.
Chamava.... chamava.... chamava... e caía.
Foram umas 4 tentativas...

- Olha, Marina, vão te chamar atenção aí, viu? Que ABSURDO. EU NÃO QUERO FALAR. IRRESPONSÁVEL. TCHAU.

E batia o telefone na minha cara.

Nisso, já era a minha estação. Desci morrendo de rir. Ainda chovia, mas bem menos. 
Nem me dei ao trabalho de abrir o guarda-chuva. Fui rindo incontrolavelmente e tomando chuva. Uma coisa que a gente faz pouco, mas deveria fazer mais. É bom. 

Cheguei em casa ensopada. Quando abri a porta, veio ela lá de dentro como um furação. Esbravejava com meu pai no telefone....

- Ahhhhhh!!!!!!! Ela chegou, Clersio. Deixa eu ir.

Eu ainda tive que escutar mais uns 30 minutos de esporro. 
Ah, importante! Até hoje ela acha que tá certa.


7 comentários:

  1. Amei!! Muito minha Tia Nancy :)
    Bjs Piu

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  2. Épica!! Uma das melhores histórias, sem dúvida alguma!!

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  3. Muito bom isso, Lora!!!! kkkkkkkkkkkkk... sua mãe é demais mesmo! Lembro de algumas histórias que me contava dela, mas essa é uma das mais engraçadas... Saudadeeeeeeeeeesss!!! Laurinha já está aqui, quando quiser é só vir... beijos...

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    1. hahahhahahaha! Saudade, LU! Vou aparecer sim..... Conhecer os dois anjos! beijos

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