Meu primeiro estágio
foi num escritório de Design no Centro do Rio, na Avenida Presidente
Vargas. Eu saía da faculdade direto pra lá. Almoçava qualquer
coisa pelo Centro mesmo. Ou então, um sanduíche dentro do ônibus.
Vida de estagiário.... Quem nunca?
Fiquei quase 1 ano
nesse escritório, e lembro que peguei vários daqueles dilúvios que
caem no meio da tarde e inundam as ruas até o joelho da gente.
Quem mora no Rio sabe: a cidade para.
Quando isso acontecia
na hora de eu ir embora, eu esperava um pouco a situação melhorar. Mas em alguns dias eu tive que sair.
É sobre um desses dias
que eu vou escrever hoje.
O prédio do meu
estágio ficava em frente à Estação Uruguaiana, do outro lado da Presidente Vargas. Cá
entre nós, eu adorava trabalhar ali. Eu adoro o Centro do Rio, mesmo com todo
aquele furdúncio recorrente. Minha mãe foi criada no Centro e eu
nasci na maternidade Promatre, também no Centro. Talvez por isso eu
goste.
Bem, desci e consegui
atravessar a Presidente Vargas. Fui até as escadas da estação
Uruguaiana e parecia um rio. Andei até a Rio Branco, que estava
cheia até o meu joelho. Voltei. Esperei uns 20 minutos e resolvi
enfrentar as águas das escadas da Uruguaiana.
Deu tudo certo. Cheguei
e entrei direto no terminal. Como eu costumava pegar o metrô
na volta, sempre mantinha o cartão do metrô carregado. Isso
salvava a minha vida na maioria das vezes, porque a fila dos guichês
do metrô às 18:30 no Rio de Janeiro são quilométricas.
Por incrível que
pareça, entrei no vagão facilmente e consegui sentar. Toda encharcada, mas aliviada porque ia descer super perto de casa. Ufa.
O celular toca. Toda
confusa com o material de faculdade, bolsa, guarda-chuva, não consegui
atender. Toca de novo.
- Alô.
- Marina????
- Oi, mãe. Ufa...
- Onde você está?
Vi que no Centro está tudo cheio..... Espera melhorar.... Não sai
do trabalho.
- Mãe, já sai. Não
dava pra enfrentar a Rio Branco, mas consegui pegar o metrô. Já já
tô em casa.
- O quê????
- Mãe, tô no
metrô. Tá um caos mesmo... Mas consegui pegar o metrô.
- MA – RI –
NAAAAA! Você só pode estar brincando!!!!! - a fala era realmente
pausada.
- Ué, mãe, por
quê??
- MARINAAAAA, pelo
amor de Deus, um dilúvio desses e você vai pro metrô???? Será
que você não aprendeu que, quando chove muito, a gente tem que se
manter em cima e não ir pra baixo...?!
- Mãe.......
- Olha.... I-
NA-CRE-DI-TÁ-VEL.....Uma garota inteligente fazer uma coisa
dessas.... O metrô virando rio e você... entra no rio....!
- Mãe, a Rio Branco
que estava um rio.... Não tinha como ser de outro jeito...
- Ahhhhhhhh,
Marina..... (com aquele tom de quando eu tinha 6 anos e aprontava
alguma coisa que ela não gostava).
- Mãe, falamos em
casa, tá?
- Onde você está?
- No metrô, meu
Deus!
- Mas onde??
Comprando bilhete?
- Não, mãe. Já no
vagão, indo pra casa....
- O
queeeeeeeeeeeeeê?
- Você está usando
o celular dentro do metrô?
- Ué, mãe, tô....
Pode usar.
- Olha, Marina,
SIN-CE-RA-MEN-TE...... Se você quer arriscar a sua vida, problema
seu. Agora colocar a vida dos outros em risco????
Eu já não conseguia
falar direito de tanto rir. E, claro, as pessoas me olhavam
assustadas.
- Mãe... Deixa eu
te explicar... Pode usar!
- Ahhhhh sei,
sei.... Se não pode em avião, por que vai poder no metrô? Ah, MEU
DEUS...
Eu não conseguia mais
falar nada.
- Olha, Marina..... TCHAU.
E desligou o telefone. Claro, voltei a
ligar.
Chamava.... chamava....
chamava... e caía.
Eu insistia....
Chamava.... chamava....
chamava... e caía.
De novo...
Chamava.... chamava....
chamava... e caía.
Até que...
- Marina, para de ligar! Eu não
vou atender. Irresponsável!
E desligou. Voltei a ligar.
Chamava.... chamava....
chamava... e caía.
Foram umas 4 tentativas...
- Olha, Marina, vão
te chamar atenção aí, viu? Que ABSURDO. EU NÃO QUERO FALAR.
IRRESPONSÁVEL. TCHAU.
E batia o telefone na minha cara.
Nisso, já era a minha
estação. Desci morrendo de rir. Ainda chovia, mas bem menos.
Nem me dei ao trabalho de abrir o guarda-chuva. Fui rindo incontrolavelmente e tomando chuva. Uma coisa que a gente faz pouco, mas deveria fazer mais. É bom.
Cheguei em casa
ensopada. Quando abri a porta, veio ela lá de dentro como um
furação. Esbravejava com meu pai no telefone....
- Ahhhhhh!!!!!!! Ela
chegou, Clersio. Deixa eu ir.
Eu ainda tive que
escutar mais uns 30 minutos de esporro.
Ah, importante! Até hoje ela acha
que tá certa.
Amei!! Muito minha Tia Nancy :)
ResponderExcluirBjs Piu
Até hoje! Filha é Filha!!!
ResponderExcluirMuito bom. :)
ResponderExcluirÉpica!! Uma das melhores histórias, sem dúvida alguma!!
ResponderExcluirSua mãe é idola!
ResponderExcluirMuito bom isso, Lora!!!! kkkkkkkkkkkkk... sua mãe é demais mesmo! Lembro de algumas histórias que me contava dela, mas essa é uma das mais engraçadas... Saudadeeeeeeeeeesss!!! Laurinha já está aqui, quando quiser é só vir... beijos...
ResponderExcluirhahahhahahaha! Saudade, LU! Vou aparecer sim..... Conhecer os dois anjos! beijos
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