Quando eu era pequena, morei na Gávea até os meus 11 anos. Morava num prédio com uma pracinha na frente (que existe até hoje), entre duas ruas. As duas sem saída. Na verdade, uma tinha saída mas era pouco movimentada.
Esse prédio era vizinho de dois outros prédios, que também frequentavam a mesma pracinha e as mesmas ruas. No total, éramos umas 30 crianças brincando entre a pracinha e as duas ruas sem saída.
Minha maior vontade naquela época era chegar da escola e “descer pra rua”. Mas antes, claro, eu tinha que fazer o dever. Minha mãe sempre foi muito liberal, mas existiam regras. Primeiro o dever, depois a brincadeira.
- Marinaaaaaaaaaa, desce.
- Agora não, gente. Marina está fazendo dever. Já já ela desce. - Dizia minha mãe com a cabeça na janela.
A gente brincava de amarelinha, elástico, andava de bicicleta e, claro, Polícia e Ladrão. Todo mundo lembra dessa, né?
A gente brincava muito de Policia e Ladrão, até porque pique-esconde com 30 crianças não tinha como dar certo. Então era um grupo de polícia e outro de ladrão, que tinha que se esconder da policia.
Tinha gente que ia pra pracinha, que pulava o muro pra ficar do outro lado escondido, que se escondia atrás dos carros ou embaixo deles, que subia a “rua de lá” porque era deserta e escura…. Sem dúvida alguma, era a brincadeira que a gente mais gostava. E o mais legal: era unissex; tanto os meninos quanto as meninas brincavam juntos, em grupos misturados.
No último dia das Mães, eu estava conversando com meus pais sobre "os tempos da Gávea". E falamos sobre a famosa Polícia e Ladrão. Meu irmão de 9 anos, olhou rápido pra mim e disse:
- O que, Marina? Onde? - já vindo pro nosso lado procurar refúgio.
- Não, Pedro, era uma brincadeira que eu adorava quando eu tinha a sua idade.
Nenhuma palavra saiu da boca dele, mas os olhos disseram: “Doida”.
De lá pra cá, eu fiquei pensando... Hoje, Polícia e Ladrão certamente seria uma brincadeira proibida pelo Conselho Tutelar. Quando que uma criança poderia hoje brincar na rua, de uma brincadeira chamada Polícia e Ladrão? No mínimo, os pais seriam acusados de descuido e o nome teria que ser mudado.
O nome não me parece fazer mais sentido mesmo. Hoje, nossa sensação de insegurança é gigante e as perseguições entre polícia e ladrões de verdade são polêmicas e catastróficas. O que era a minha brincadeira favorita de criança virou uma realidade assustadora pro meu irmão.
Ahhh, como eu amava passar os finais de semana lá <3
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