Minha primeira viagem para fora do Brasil foi com o meu pai. Eu tinha 14 anos. Ele me convidou para ir ao Peru e ao México e, claro, aceitei. Conheci Lima (que não gostei muito) e Matchu Pitchu (que adorei) e, depois, seguimos para a imensa Cidade do México.
Viajar com meu pai é incrível, já que ele é professor de História, Geografia e, também, é Guia Turístico. Passamos alguns dias na Cidade do México, revimos amigos do meu pai que lá moravam, e começamos a descer de trem para conhecer as cidadezinhas menores.
Ficávamos de 2 a 3 dias em cada uma delas e, depois, seguíamos viagem. Puebla, Oaxaca, Vera Cruz, Chiapas (onde ficamos uns 5 dias e rende mais um post com certeza), Mérida.... Já láaaa no sul do México, eu pedi ao meu pai para irmos a Cancún. Ele não gostou do pedido. Sempre disse que Cancún não era México, que não valia a pena, bla bla bla....
Mas, como um pai babão que é, acabou cedendo. Mas colocou uma condição: deveríamos conhecer os parques arqueológicos ao redor de Cancún também. Eu aceitei, claro. Eu sempre me interessei bastante por civilizações passadas, e uma viagem ao México tinha sido um pedido meu ao meu pai há alguns anos. México e Cuba. Lugares que ele já tinha ido algumas muitas vezes.
Mas é bem verdade que a nossa viagem tinha se resumido a ruínas até aquele momento. Quem lê isso assim pensa que eu era uma garota babaca e fútil. Mas eu não era. Além de adorar História, eu era uma menina de 14 anos, que estava começando a ser vaidosa, começando a sair à noite, virando adolescente. E Cancún, dentro do American Way of Life, me atraía.
Hoje, com 31 anos, eu queria ter muito dinheiro para visitar vários lugares do mundo. Certamente meu pai estaria na maior parte dessas viagens. Ele é um super companheiro de viagem. Em outras, ele seria exclusivamente pai, recebendo lembranças quando eu voltasse ao Brasil.
Fomos pra Cancún. E sendo justa, Cancún é linda. A água tem três cores: verde claro, azul claro e azul escuro. Uma coisa absurda de tão linda!
Tivemos alguns contratempos.... Meu pai odiava quando eu entrava em alguma loja. Achava tudo muito caro comparado ao peso mexicano. Eu implorava pra ele me esperar do lado de fora, mas ele teimava em entrar. E como em Cancún se fala inglês...
- Señorita, esto es México. El idioma es el español, no Inglés. (dizia ele)
Eu morria de vergonha, mas se eu pedisse pra ele não fazer essas coisas era pior.
Ele fazia mais ainda.
Ele fazia mais ainda.
Num dos últimos dias em Cancún, fomos ao Parque Arqueológico de Chichén Itzá, que era um dos mais distantes. Meu pai estava doido pra ir. Eu confesso
que, depois de uns 20 dias de viagem, eu queria mesmo era terminar a viagem no centro de
Cancún, vendo toda aquela galera da minha idade aproveitando o lado "fútil" da vida.
Foram umas 4 horas de viagem, acho. Sempre que chegávamos a um parque arqueológico,
a gente dava uma volta geral. Era como uma volta olímpica, de reconhecimento de campo.
Depois, voltávamos para os pontos que mais tinham nos interessado. A pirâmide que mais
nos chamou mais atenção foi a de Kukulcán. E lá estávamos diante dela.
- Pai, como podem os caras terem construído isso sem nenhum artificio que a gente tem hoje?
- É... Levavam anos e anos para uma pirâmide ser construída. Trabalho braçal mesmo.
Viajar com meu pai é como viajar com uma enciclopédia ambulante, só que bem melhor. Porque ele não fala só do que está diante de você, ele contextualiza, explica como era a sociedade que vivia ali, dá um panorama do mundo na época.
- Vamos subir, filha?
- Vamos, claro.
Eu sempre fui medrosa. Tenho medo até hoje desse tipo de aventura, mas sendo justa comigo, costumo enfrentá-los. Lembro sempre do meu avô falando: é normal ter medo.
Só não pode se paralisar por deles.
Só não pode se paralisar por deles.
Subimos com todo o cuidado, os degraus eram muito estreitos e a escadaria parecia não ter fim. Chegamos ao topo. Era a pirâmide mais alta. Dava pra ver todo o parque de Chichén Itzá. Lindo! Eu e meu pai. Só nos dois.
- Estranho, né, pai? Só tem a gente aqui em cima.
- Ahhh, as pessoas devem ter receio.... Fica tranquila que teve só uma menina que ficou presa aqui, mas um helicóptero tirou ela daqui de cima.
Eu dei aquele sorriso amarelo, querendo acreditar que era uma piada. E continuei tirando fotos.
Dali a uns 3 minutos, vimos um segurança do parque falar algumas palavras lá embaixo. Ele falava olhando pra cima, e se só tinha a gente lá no alto, era óbvio que era com a gente. Fácil essa dedução.
Eu não entendi nada. Primeiro porque ele falava aquele espanhol rápido, difícil de entender. Segundo porque estávamos a uma altura de uns 35 metros. Acho.
- Pai, o que ele tá falando?
- Hummm não sei.... Perai.... Ih Marina, ele tá mandando a gente descer.
- É...? Por quê....? Bem, vamos então, né?
Eu não sabia direito como começar a descer. A sensação de descer é quase sempre muito pior do que a de subir.
- Marina, desce de costas. Degrau por degrau, segurando essa corda de aço. E evita olhar lá pra baixo.
Respirei fundo umas 5 vezes e fui.
De repente, ouvi uns burburinhos vindos lá de baixo. Olhei rapidamente e tinham uns 100 turistas olhando pra mim e pro meu pai, que também estava descendo mas mais em cima. Todos, sem exceção, eram japoneses. Eu não entendia uma palavra do que eles falavam, mas estava claro que tínhamos virado a atração do momento.
Mal cheguei em terra firme e vários deles vieram me pedir que ficasse ao lado da pirâmide. E haja foto. Acho que eu nunca ouvi tanta palavra junta sem entender nenhuma delas. A sensação era horrível porque, em vários momentos, eles estavam falando comigo e eu não entendia nada. A comunicação foi baseada na mímica e na dedução.
Em uns 30 segundos, meu pai estava do meu lado. O segurança veio falar conosco:
- Vocês não viram a placa ao lado da ruína? - disse ele em espanhol.
Olhamos pro lado e lá estava:
"No subir. Peligro de colapso."
Meu pai pediu desculpas.
Eu fiquei quieta; já bastava o medo e a vergonha que eu estava sentindo.
Eu fiquei quieta; já bastava o medo e a vergonha que eu estava sentindo.
Depois de uns 5 minutos de conversa com o segurança, tentando amenizar a ideia brilhante que tivemos de subir em uma pirâmide com risco de desabamento, conseguimos sair da aglomeração local.
- Que mico, pai. Vambora....
Um dos turistas japa veio atrás da gente e estendeu o braço na minha direção. Na mão dele tinha uma foto. Pela dedução, eu entendi que ele queria me dar a foto. Peguei e abaixei a cabeça numa menção de agradecimento.
Quando olhei a foto, era eu. Descendo a Kukulcán.
Há 17 anos, era o boom da Polaroid e, dela, nasceu a prova de toda essa história que estou contando a vocês. Taí.
obs: Mãe, você só ficou sabendo desse fato agora. Mas, olha, eu tô bem! Vivinha! Isso tem 17 anos!
Fantastico! Precisamos viajar com seu pai! rssssssssss
ResponderExcluirHa 8 anos fomos para Cancun tambem visitamos Chichen Itza. Pudemos subir na piramide, nos e todos os turistas que estavam no parque. Subir foi facil, mas descer...e ficava uma ambulancia la embaixo...
De vez em quando, rolavam pedrinhas...enfim, parece que hoje esta proibido subir, piramide aguenta anos de intemperies, mas nao aguenta turistas!!!!!
Bjs
Demais!! :)
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