É verdade que eu já tinha vindo a São Paulo algumas vezes. Minha mãe adora SP e meu ex cunhado mora aqui. Eu curtia vir para passar 3 dias, no máximo. Nunca me imaginei fora do Rio.
A verdade é que eu nunca me imaginei fazendo uma mudança tão grande de vida. Nasci e morei no Rio até os meus 29 anos. Minha alma é carioca. Cortar essa raiz nunca foi sequer uma ideia na minha cabeça, até que minha mãe se mudou para Minas Gerais.
Eu tinha 21 anos e foi uma puta mudança na vida da nossa família. Sofri muito e ela também. Demoramos a nos acostumar. Mas aí entra uma característica do ser humano que eu admiro muito: a gente se adapta. Até aos acontecimentos mais trágicos, a gente se adapta. E cá entre nós, eu no Rio e minha mãe em Minas não é nada drástico. Meu grande aprendizado foi entender, de verdade, que a distância muitas vezes aproxima. E que sim, por mais brega que seja, o amor vence a barreira da distância.
Minha vida continuou carioca. Terminei um namoro... Fiquei "solteira no Rio de Janeiro".... Comecei a namorar de novo. Depois de 8 meses, meu namorado, também publicitário, recebeu uma proposta para ir trabalhar em São Paulo. Eu sabia que era questão de tempo para isso acontecer, e recebi a notícias numa boa. É bem verdade que, no momento que ele efetivamente se mudou, a relação passou por uma fase delicada. "Será que eu continuo?" "Será que um dia eu me vejo em SP....?" Decidi deixar a vida me levar, como diz nosso querido carioca Zeca, e aprender a conviver com a ponte aérea; uma difícil decisão pra quem tem tanto medo de avião.
Depois de quase 1 ano, recebi uma proposta de trabalho pra São Paulo e resolvi arriscar. Foi difícil... Lembro bem do dia que eu saí do Rio rumo a São Paulo. Chorei copiosamente. Minhas mãe só dizia: "se não quiser, não vai. Fica. Mas eu acho que você deve ir... Você é forte, minha filha." E eu sentia que devia ir, que devia arriscar.
Me entreguei ao "avesso do avesso do avesso do avesso". E pra surpresa, São Paulo me recebeu de braços abertos, apesar de ser o Rio que tem o Cristo. Aquela cidade cinza, só foi cinza pra mim durante algumas semanas. Aos poucos, de forma rápida, tornou-se colorida. Parei de procurar o Rio em São Paulo e descobri que, se eu sentisse muita saudade, eu poderia matá-la em 45 minutos. Ou em 6 horas, se a grana for curta.
É bem verdade que muitas vezes eu sinto falta de estar no Rio. Mas é muito mais pelas pessoas que lá estão do que pelo Rio em si. Sinto falta de poder vê-las a hora que eu quiser. Mas logo lembro que encontros repentinos nos dias de semana eram dificílimos. Cada um tem sua vida, sua batalha. Viver exige foco e cansa.
Casei. Tirei carteira de motorista. Deixei de ter (tanto) medo de avião. Virei fã de japonês. E aprendi a admirar um chope. São Paulo me transformou. E depois de quase 2 anos, posso dizer que me apaixonei pela Big Apple brasileira.
E antes que qualquer carioca me chame de traía; SIM, é claro que eu continuo amando o Rio. O Rio de Janeiro é a minha cidade. Procurar o Rio em São Paulo, assim como São Paulo no Rio é uma tarefa inútil. São cidades com princípios diferentes, estilos de vida diferentes, propostas de vida diferentes. Mas foi São Paulo que me mostrou uma coisa incrível: felicidade começa do lado de dentro.
Obrigada, São Paulo! E parabéns!