quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Na levada do AMEX...

Minha mãe recebeu um novo cartão de crédito do AMEX. A cartinha que veio junto com o cartão dizia que era preciso ligar para a central do cartão para desbloquea-lo. Ela fez isso.

Lá estava ela cumprindo o normal (e chato) procedimento de confirmação de dados pessoais para provar que você é você mesmo.

- Sim, Nanci Cherfen, sou eu.
- O que, o endereço? Rua Conselheiro Lafaiete X/Y. 
- …..
- Que? Como assim? Vou falar de novo: Rua Conselheiro Lafaiete X/Y. 
- ….
- Como assim, minha filha? Você está duvidando da informação que eu tô dando? Eu sei muito bem onde moro…

Eu estava ao lado, sentada no computador. Mas já tinha entendido tudo que estava acontecendo. 

- Minha filha, qual o endereço que está cadastrado aí?
- …..
- Ué, como não pode dizer???? É o MEU ENDEREÇO!!!!!

Ela, que já fala alto, já estava gritando…

- Mãe, calma…
- Marina, olha isso! A moça está falando que eu não sou eu!! Minha filha, eu sou eu!!!!! Nanci Cherfen!!! Moro na Rua Conselheito Lafaiete X/Y!! Que endereço está aí? Se não está esse, minha filha, está errado! Você tá duvidando da minha sanidade, é?
- ….
- MARINA!! Ela tá falando que eu não moro aqui… Fala pra ela, Marina!

Coloquei no viva voz…

- Oi, moça. É a filha dela. Mas não sei se está cadastrado aí que ela tem filha não, viu? Ela mora nesse endereço sim… 
- Mas, infelizmente, o endereço não bate com o que está cadastrado no sistema, senhora. 
- Nesse caso, se faz o que?
- Infelizmente, abrir um pedido de análise.
- AHHHHHHH MEU DEEEEEEUS – gritava Nanci do lado de cá.
- Calma, mãe!!!!!!!! Mas moça, isso é um absurdo! O retorno demora quanto tempo?
- Até 5 dias úteis, senhora.

Nanci assumiu a ligação de novo:

- Ahhhh minha filha, vocês estão de palhaçada… Não quero mais nada não, ok? Pode inclusive cancelar esse cartão. Tchau.

E desligou.

Dois dias depois, o AMEX ligou informando que houve um erro interno e que o cartão estava desbloqueado. Ela repetiu essa história inteira pro atendente que ligou, mas acabou tudo bem. 





quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sobre ser taurina

Desde pequena, eu ouvi que demonstrar afeto, quando realmente existe afeto, é uma coisa legal. Pro taurino, ser óbvio não é difícil. Ele é naturalmente transparente. Se ele gostar de você, você vai saber na hora. Se não, ele até disfarça mas se mantém notavelmente afastado. 


Acontece que o taurino tem uma característica que, até outro dia, eu achava bem positiva. A gente conhece as pessoas de peito aberto. É muito raro você encontrar um taurino que fale gratuitamente: "não fui com a cara dele". É um signo de pessoas abertas a conhecerem pessoas novas, e sempre partem do principio que são pessoas que podem valer a pena. Eu sempre curti isso no meu signo. Dentre tantas características complicadas, essa sempre me agradou. Eu gosto de conhecer pessoas, gosto da comunicação entre as pessoas, gosto da essência que torna o ser humano um bicho sociável. 

Mas, de uns tempos pra cá, conforme vai vivendo, você entende que partir do princípio que as pessoas são essencialmente bacanas pode te trazer surpresas bem desagradáveis. E ai, você começa a entender que não dá pra sair curtindo qualquer pessoa que você conhece. Que mais vale ficar na sua, ir conhecendo bem aos poucos e, se realmente valer a pena, você vai se soltando. 

Pra um taurino isso é um puta desafio. Ser mais ou menos não faz parte da nossa essência. Mas isso não é um elogio não. Ser desse jeito tem um preço, e alto. A gente toma muita porrada por ser assim. Aí, aos poucos, a gente vai ficando mais ressabiado, mais contido, mais desconfiado, mais neutro.

Eu tenho me tornado uma pessoa mais neutra de uns tempos pra cá. Ninguém gosta de ficar tomando porrada, concorda? E vou te contar, o mundo tá cheio de pegadinhas... 

Na tentativa de ser neutro, o taurino tende a se fechar. Desconfia. Mantém o pé atrás. Ou quase os dois. Ou acaba cobrando pra tentar se garantir. Demonstra menos afeto. Se relaciona "mais ou menos". Tudo que ele não sabe essencialmente fazer. 

Costumo falar que se relacionar é uma arte. Mas se relacionar com tanta cautela, pro taurino, é uma arte abstrata. A gente quando gosta, GOSTA. Quando é amigo, É AMIGO. Quando chora, CHORA. Quando erra, SE CULPA. E pede desculpa. E se explica (até demais). A verdade é que o taurino é ou não é. A gente pode até aprender a ser ponderado. Mas essa é, sem dúvida nenhuma, uma característica nata do aquariano.

O mundo tem me "exigido" a ser "mais ou menos". E a verdade é que, sendo mais ou menos, a gente acaba ficando menos a mercê do que os outros são ou não são. Dói menos. Mas se vive menos também. 

Em todo taurino existe uma vontade imensa de ser intenso, de mergulhar fundo, de ser verdadeiro, de deixar tudo muito bem explicado. A gente é fã da demonstração de afeto genuína e julga impossível haver qualquer tipo de perda nesse tipo de demonstração. Pro taurino, viver é expressar o que sente, seja por palavras, por ações, por atitudes ou, dificilmente, por silêncio. 

O mundo insiste em me provar que ganho mais sendo "mais ou menos". Mas confesso, do fundo do meu coração taurino, que ainda me questiono bastante se vale a pena. 




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Eu, Marina, e o copo de bebida alcoólico na mão.

Até os meus 27 anos, eu era uma jovem que não bebia. Quer dizer, bebia muuuuuuuito raramente, e era capaz de ficar altinha com 1 Smirnoff Ice (eta fase barata!!). 

Namorei durante 8 anos, e só comecei a beber (mesmo) depois que fiquei solteira. Você começa a sair, ter que ficar de pé até quase de manhã...
É bem verdade que isso sempre foi algo super possivel no meu caso, mesmo sem álcool. Mas, verdade seja dita, que com ele tinha se tornado uma missão bem mais simples, tinha. 

Pra uma mãe, ter uma filha (única) de 27 anos que não bebe é quase uma dádiva, concordam? Dona Nanci demorou muito a aceitar que a filhinha dela tinha começado a beber aos 27 anos. Principalmente porque ela não bebe. Ou melhor, bebe só aquelas bebidinhas que são praticamente uma sobremesa com zero 0,1% de álcool. 

Já meu pai sempre me dizia:

- Minha filha, tem que beber um pouco... Nem que seja socialmente.... Que isso...

Minha mãe exterminava meu pai quando ele dizia isso perto dela. 

Voltando. Quando uma pessoa fica solteira, é mais do que natural que ela comece a sair, estar mais com os amigos, postar mais fotos "de galera" no facebook, concordam? É bem verdade que hoje em dia o Face anda meio chato, mas "naquela época" era uma super novidade. Principalmente pra mim, que entrou no Face também depois de ficar solteira.

Vocês devem estar pensando: essa daí foi viver a vida depois que ficou solteira. Não é bem por aí... Mas é bem verdade que descobri muita coisa a partir dos meus 27 anos. 

Eu saia com a minha irmã, de 16 anos. De de certa forma, estavámos passando por fases bem parecidas. Sendo assim, volta e meia "aparecia" uma foto minha no Facebook segurando alguma bebida. Totalmente normal, acho eu. Mas pra minha mãe, não. 
Era eu postar uma foto....

Triiiiiimmmmm
- Oi, mãe.
- Alô, Marina? Marina, você tá me ouvindo???
- Mãe, tá meio barulho... Eu tô no samba, que foi? Tá tudo bem!
- Marina, Marina....?!

Eu desistia e ia prum lugar que a conseguisse ouvir.

- Fala, mãe. 
- Marina, olha..... Eu vou ser direta, sabe? Eu vi aqui uma foto sua no Facebook.... Sinceramente...
- O que, mãe?!?!
- Olha, Marina... Sinceramente, eu não acho legal você ficar postando foto segurando copo com bebida álcoolica na mão não....
- Ah, mãe, pelo amor de Deus!!!! É só uma caipirinha!!! Eu tô no samba, tá tudo bem!
- Olha, eu não concordo. Acho que não precisa disso....
- Tá bem, mãe. Tá bem. Não vou mais postar (hoje).

Ela desligava, como sempre, na minha cara. Devia perder a noite pensando na foto do Facebook....  Eu realmente evitava mais fotos naquele dia. Mas só naquele dia, porque no outro já tinha esquecido.

Aos poucos, dona Nanci foi relevando as postagens com "copo de bebida alcóolica na mão". Até que, na inesquecível festa de 10 anos de formatura do colégio alguém postou uma foto minha, com as minhas amigas, segurando uma capirinha (era a única bebida que eu curtia no começo). Meu chefe da época comentou:

- Quem te viu, quem te vê.

Quem me conhecia tinha entendido. Eu realmente tinha mudado bastante, mas era unânime a minha mudança pra melhor. Eu entendi perfeitamente o que ele quis dizer quando escreveu aquela frase. Eu realmente estava numa fase muito importante da minha vida. Não tinha a ver com a bebida ou com qualquer outro ponto externo a mim. Era algo interno, eu comigo mesma. Era o meu momento.

Mas, claro, minha mãe interpretou super mal.

Triiiiiimmmmmmmmm, Triiiiimmmmm, TRIIIIIMMMMMMMMM....

- MA-RI-NA, você está me ouvindo direito? Vai prum canto AGORA... Você viu o que o Sergio comentou na foto, Marina?!?! Ahhhhhhh Meu Deus.....
- Hahahahahahahah, mãe...
- MA-RI-NA, você tá rindo? Eu não acho a mínima graça... Ele é seu chefe, Marina... Imagina o que ele deve estar pensando....!!!!
- HAHAHAHHAHAHHAHHA
- Realmente.... eu não concordo.
- Tá bem, mãe.... Mas eu entendi o comentário dele.
- Sei...... Bem, tchau.

E desligou na minha cara, como sempre fez e faz até hoje. Confesso que eu espero que ela faça pra sempre, porque já acostumei. Não conseguiria mais ouvir um: "Tchau, filha, um beijo". Não dá. Tem coisas que se mudarem depois de muito tempo causam um estranhamento imenso. Dispenso.

O tempo passou... Hoje ela vê fotos minhas com "copo de bebida alcoolica na mão" e o celular não toca mais. Eu aposto que o coração dela não sorri, mas ela já aceitou ter uma filha de 32 anos que bebe. UFA!

Em 2010, na festa de 10 anos de formatura do colégio.