Até os meus 27 anos, eu era uma jovem que não bebia. Quer dizer, bebia muuuuuuuito raramente, e era capaz de ficar altinha com 1 Smirnoff Ice (eta fase barata!!).
Namorei durante 8 anos, e só comecei a beber (mesmo) depois que fiquei solteira. Você começa a sair, ter que ficar de pé até quase de manhã...
É bem verdade que isso sempre foi algo super possivel no meu caso, mesmo sem álcool. Mas, verdade seja dita, que com ele tinha se tornado uma missão bem mais simples, tinha.
Pra uma mãe, ter uma filha (única) de 27 anos que não bebe é quase uma dádiva, concordam? Dona Nanci demorou muito a aceitar que a filhinha dela tinha começado a beber aos 27 anos. Principalmente porque ela não bebe. Ou melhor, bebe só aquelas bebidinhas que são praticamente uma sobremesa com zero 0,1% de álcool.
Já meu pai sempre me dizia:
- Minha filha, tem que beber um pouco... Nem que seja socialmente.... Que isso...
Minha mãe exterminava meu pai quando ele dizia isso perto dela.
Voltando. Quando uma pessoa fica solteira, é mais do que natural que ela comece a sair, estar mais com os amigos, postar mais fotos "de galera" no facebook, concordam? É bem verdade que hoje em dia o Face anda meio chato, mas "naquela época" era uma super novidade. Principalmente pra mim, que entrou no Face também depois de ficar solteira.
Vocês devem estar pensando: essa daí foi viver a vida depois que ficou solteira. Não é bem por aí... Mas é bem verdade que descobri muita coisa a partir dos meus 27 anos.
Eu saia com a minha irmã, de 16 anos. De de certa forma, estavámos passando por fases bem parecidas. Sendo assim, volta e meia "aparecia" uma foto minha no Facebook segurando alguma bebida. Totalmente normal, acho eu. Mas pra minha mãe, não.
Era eu postar uma foto....
Triiiiiimmmmm
- Oi, mãe.
- Alô, Marina? Marina, você tá me ouvindo???
- Mãe, tá meio barulho... Eu tô no samba, que foi? Tá tudo bem!
- Marina, Marina....?!
Eu desistia e ia prum lugar que a conseguisse ouvir.
- Fala, mãe.
- Marina, olha..... Eu vou ser direta, sabe? Eu vi aqui uma foto sua no Facebook.... Sinceramente...
- O que, mãe?!?!
- Olha, Marina... Sinceramente, eu não acho legal você ficar postando foto segurando copo com bebida álcoolica na mão não....
- Ah, mãe, pelo amor de Deus!!!! É só uma caipirinha!!! Eu tô no samba, tá tudo bem!
- Olha, eu não concordo. Acho que não precisa disso....
- Tá bem, mãe. Tá bem. Não vou mais postar (hoje).
Ela desligava, como sempre, na minha cara. Devia perder a noite pensando na foto do Facebook.... Eu realmente evitava mais fotos naquele dia. Mas só naquele dia, porque no outro já tinha esquecido.
Aos poucos, dona Nanci foi relevando as postagens com "copo de bebida alcóolica na mão". Até que, na inesquecível festa de 10 anos de formatura do colégio alguém postou uma foto minha, com as minhas amigas, segurando uma capirinha (era a única bebida que eu curtia no começo). Meu chefe da época comentou:
- Quem te viu, quem te vê.
Quem me conhecia tinha entendido. Eu realmente tinha mudado bastante, mas era unânime a minha mudança pra melhor. Eu entendi perfeitamente o que ele quis dizer quando escreveu aquela frase. Eu realmente estava numa fase muito importante da minha vida. Não tinha a ver com a bebida ou com qualquer outro ponto externo a mim. Era algo interno, eu comigo mesma. Era o meu momento.
Mas, claro, minha mãe interpretou super mal.
Triiiiiimmmmmmmmm, Triiiiimmmmm, TRIIIIIMMMMMMMMM....
- MA-RI-NA, você está me ouvindo direito? Vai prum canto AGORA... Você viu o que o Sergio comentou na foto, Marina?!?! Ahhhhhhh Meu Deus.....
- Hahahahahahahah, mãe...
- MA-RI-NA, você tá rindo? Eu não acho a mínima graça... Ele é seu chefe, Marina... Imagina o que ele deve estar pensando....!!!!
- HAHAHAHHAHAHHAHHA
- Realmente.... eu não concordo.
- Tá bem, mãe.... Mas eu entendi o comentário dele.
- Sei...... Bem, tchau.
E desligou na minha cara, como sempre fez e faz até hoje. Confesso que eu espero que ela faça pra sempre, porque já acostumei. Não conseguiria mais ouvir um: "Tchau, filha, um beijo". Não dá. Tem coisas que se mudarem depois de muito tempo causam um estranhamento imenso. Dispenso.
O tempo passou... Hoje ela vê fotos minhas com "copo de bebida alcoolica na mão" e o celular não toca mais. Eu aposto que o coração dela não sorri, mas ela já aceitou ter uma filha de 32 anos que bebe. UFA!
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Em 2010, na festa de 10 anos de formatura do colégio. |