terça-feira, 29 de julho de 2014

2 Anos de São Paulo.

2 anos. 730 dias. 17.520 horas. Esse é o tempo que moro em São Paulo.

Lembro do dia que eu sai do Rio rumo à cidade da Garoa. Era domingo, dia 29 de Julho de 2012. 

Deixei pra fazer a mala no próprio domingo. Passei o dia arrumando as minhas coisas. Chorei o dia inteiro. Um choro angustiante e inconsolável. Como uma boa taurina, tentei ser durona mas fracassei completamente.
Minha mãe ficou o tempo inteiro na porta do meu quarto, parada, em pé, me olhando…. Com aqueles olhos de mãe que entendem perfeitamente a dor dos filhos, mas tentam se manter firmes. Eu jamais tinha pensado em sair do meu Rio de Janeiro. 

São Paulo passou de uma hipótese para uma realidade em um mês. É engraçado como a vida muda de repente. Nasci e cresci no Rio. Apesar da minha cor, sou extremamente carioca. Gosto do jeito despojado que a gente vive e leva a vida. Ser carioca é um estilo de vida, e tenho orgulho de ter esse estilo. Com a gente não tem muito “mimimi”; a gente sai na rua como quer, anda como quer, se veste como quer, é extremamente extrovertido e receptivo.

Cheguei em São Paulo com os olhos inchados, mas já estabilizada. Nunca fui de gostar muito de mudanças…. Mas sempre que elas vêm, tento encarar de frente. Lembro do meu pai falando comigo quando eu era pequena e estávamos no mar:

- Quando a onda vier, mergulha bem fundo. Aí ela vai passar sem você sentir nada. Mas se ela te pegar de surpresa, mantenha a calma, e enfrenta.

Enfrentei São Paulo como se fosse uma dessas ondas surpresas. 

Os dois primeiros meses não foram fáceis. O Rio era meu porto seguro. Eu morava sozinha, trabalhava numa agência que eu adorava, tinha a família por perto, muitos amigos… E de repente, tudo tinha mudado. Eu era realmente “um estranho no ninho”. Só que aí entra a característica do ser humano que mais admiro: somos adaptáveis. A gente sente muito quando as coisas mudam, mas se adapta. Sempre pensei que, se uma mãe sobrevive e volta a sorrir depois da perda de um filho, todo o resto é passível de superação. Sei que é um pensamento triste, mas pensar assim me facilita muito as coisas.

Nunca me mudei efetivamente. Eu fui trazendo coisas. Alguns falam que isso ajuda o processo. Outros falam que dificulta. No meu caso eu acho que facilitou, porque fui deixando o Rios aos poucos; a separação foi menos traumática.

Passei o primeiro ano indo ao Rio quase todos os finais de semana. Curtindo o Rio como turista, não mais como moradora. Mas o corpo e a mente começaram a reclamar. E São Paulo foi se sentindo diminuída. Depois de um ano, toda vez que eu ia pro Rio, chovia. Era como se a cidade chorasse com tamanha ingratidão da minha parte.

É bem verdade que eu demorei a chamar São Paulo de realidade. A noção do real, da nova vida e de todas as possibilidades que vinham com ela só ficaram nítidas depois de um ano morando aqui. Fui aprendendo que toda aquela rixa entre paulista e carioca não fazia sentido nenhum. É claro que os paulistanos adoram zoar o meu sotaque carregado, dizem que eu falo “cheia de marra”, mas tudo não passa de uma implicância boba e saudável. Eu adoro os paulistanos. Adoro São Paulo. Adoro tudo que a cidade tem me permitido viver nesses dois anos. Até mesmo, a ficar longe do Rio.

A verdade é que São Paulo tem uma doçura diferente. Disfarçada de cinza, é bastante colorida e, se você abrir o coração, vai poder conhecer uma cidade realmente incrível. No caos que ela representa, manter o equilíbrio e os reais sentimentos se torna extremamente necessário. E, consequentemente, torna o ser humano mais humano.

Aqui tudo é mais corrido, mais competitivo, menos pessoal, mais genérico. Mas tudo isso leva você a você mesmo, a um questionamento de quem você vem sendo e quem você realmente quer ser. É besteira falar que São Paulo “desumaniza” as pessoas. Como diz Nietzsche: “É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela."

Eu tô gerando a minha. Obrigada, São Paulo. 


domingo, 20 de julho de 2014

Bocatime

Quando comprei um iPhone novo, minha mãe ficou com o antigo. A ideia era facilitar a vida dela...

Um dia, eu estava no trabalho e meu celular tocou. Era ela. E uma surpresa: chamada de Facetime! 

- Oi, mãe!!
- Pois é... Mas parece que o médico é bom, né?
- Mãe? Alo??
- Ah é... Fui indicada pela fulana... Ai vim.
- Mãe?!?!?!

Demorei um pouco para perceber que ela tinha ligado por engano. 
Depois de quase 5 minutos, ela percebeu que tinha "alguém" falando no celular.

- Alo?!?!!?!??!?! Marina?!?!?!?!?!
- Oi, mãe... Tô ouvindo toda a sua conversa aí no consultório.. Você me ligou sem querer...
- Eu????? Mas tava escrito aqui Facetime. Que negocio é esse de Facetime?? Tá escrito "conectando, conectando"... Que isso, gente?
- Ué, mãe, é uma forma de ligação que você pode falar e ver a pessoa ao mesmo tempo.
- Quê?????? Ver???? Que palhaçada.. Marina, aqui não tem face nenhuma...
- É, acho que você ligou sem a função de vídeo....
- Quê????? Marina, você está brincando comigo? Você que ligou, não foi?!
- Claro que não, mãe... Tá doida?
- Por acaso você está me vendo, Marina?! Me diz o que tô fazendo...

Eu já tava morrendo de rir, sem conseguir falar nada.

- Fala, Marina, fala. O que eu tô fazendo?? Comigo não tem essa não... Comigo é Bocatime, palhaça. 
E desligou. 


domingo, 6 de julho de 2014

Uma lição de vida chamada Clarice.

Quando você é filha única até 11 anos, a última coisa que você não quer é deixar de ser. Pois é, mas aconteceu comigo. Aos 11 anos eu soube que teria uma irmã. Odiei. E não foi algo breve; odiei durante os 9 meses que a Clarice estava na barriga da Teresa. Mas foi ela nascer que eu fiquei totalmente apaixonada. É incrível a magia de uma criança; faz você se encantar imediatamente por ela. 

Hoje somos quatro filhos, mas foi Clarice que me ensinou a amar incondicionalmente aos 11 anos. Foi Clarice (que nasceu da poesia de sua xará) que me fez descobrir a felicidade de ter uma irmã. De dividir o que eu adorava chamar de “só meu”. De me permitir pensar que eu nunca vou estar sozinha.

Lembro que, quando Clarice nasceu, eu falei pro meu pai: “Pai, você não vai gostar mais dela do que de mim.”. Ele me respondeu calmamente: “Claro que não, Marina, eu gosto de você há 11 anos. Ela nasceu agora!”. Na época a explicação dele me fez todo o sentido. Hoje, eu entendo perfeitamente que amor não se mede. Os nove meses que não curti a ideia de a Clarice existir foram ferozmente esmagados com a notícia do seu nascimento. E olha que eu só a vi no segundo dia de vida. Mas foi saber que ela tinha nascido, que eu me apaixonei completamente.

Hoje Clarice faz 21 anos. Eu nem sei dimensionar o tamanho do meu amor por ela. É minha irmã, minha amiga, minha confidente, minha eterna parceira. É muito bom ter uma irmã. Ainda mais sendo você, Clarice.