terça-feira, 11 de março de 2014

Caralh...inho!

Hoje o post é sobre mim.... Vou dar um descanso (breve) para meus pais...

Pois bem, quando eu tinha 5 anos, fui almoçar com meu pai ali no Baixo Gávea. A gente morava no bairro, mais lá pra cima, e vivíamos ali pelo BG...

Eu não lembro se o Braseiro era o Braseiro, se o Hipódromo era o Hipódromo, mas estávamos sempre por ali. 

Era um domingo e eu sentei pra almoçar com o meu pai. Cena super normal prum dia de família, onde a maioria das mesas tinham pais e crianças.

- Boa tarde. O que vocês vão querer pedir?
- Hum.... Um bife acebolado, arroz, batata frita.... 

Meu pai sempre pedia bife acebolado. Até hoje quando a gente vai a esse tipo de bar é a pedida dele. AMA. E eu amo por tabela...

Mas aquele dia, eu queria outra coisa:
- Marina, e você, vai comer com o papai? 
- Não........
O garçom, fofo, perguntou:
- O que você vai querer, gatinha?
- Bife com caralhinho.

Ooooooooi?! Sim, é isso mesmo que você leu: CARALHINHO!

Meu pai, totalmente sem saber o que dizer...
- Marina, minha filha.... O que é isso?
- Bife com caralhinho, bife com caralhinho.
E esbocei um choro de quem não estava sendo compreendida. 

Acho que foi uma das únicas vezes que vi meu pai sem graça. 
O garçom olhava pra ele..... Ele olhava pra mim... e eu só repetia: 

- Bife com caralhinho.
- Mas, minha filha, o que é isso? Papai não está entendendo.....

Claro, eu não sabia explicar. Pra mim estava claríssimo... Como eles não estavam entendendo?!

- Minha filha, papai não sabe o que é isso....
- O senhor não sabe mesmo, senhor?
- Não, meu amigo.... Nem imagino.... Nem sei daonde ela tirou isso...

Eis que me passa uma travessa com um bifão acebolado cheio de alho frito.... 

- CARALHINHOOOOOOOOO...
Eu apontei gritando, feliz e batendo palma.
- Minha filha! Isso é alho frito! Quem te disse que era caralinho?!
- É caralhinho, pai! É ca-ra-lhi-nho.

O garçom olhou pro meu pai, me olhou e anotou no papel o pedido. Sabe-se lá como ele anotou.... Mas veio certo.

Antes de sair, ele olhou pro meu pai e perguntou:
- Quantos anos ela tem? 
- Cinco.
- É, meu senhor, se está assim nessa idade, imagina quando crescer?!?

Sem dizer uma palavra, meu pai me pegou pela mão e fomos embora. 
A coisa que um pai de menina mais odeia é pensar na sua filhinha na vida adulta, com todos as vivências que o crescer propicia.  

Até hoje eu frequento o Baixo Gávea. Sempre que estou por lá, fico pensando se é possível o garçom ainda trabalhar ali... E se ele seria capaz de me reconhecer... Creio e espero que não. Sinceramente.

Eu e papai no apartamento da Gávea. Eu aos 5 anos.



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