Mas então, num dia X, a mulher do meu pai quis conhecer o famoso shopping JK, um dos últimos shoppings construídos na cidade e o mais chique (acho). Só tem loja AAA... Versace... Dolce&Gabbana.... Aquelas lojas que nós, cidadãos comuns, raramente entramos. Na verdade, só entramos mesmo lá fora pra tentar comprar alguma coisa na Back Friday. Tipo, uma meia.
Ok, fomos. O shopping tem a sua parte "menos nobre", digamos assim. Eu adoro ir pra lá e sentar na Livraria da Vila, onde você pode ler um livro inteiro se quiser. A livraria é imensa e mais parece um museu com tantos livros e tantos corredores. Volta e meia, pego uns livros que acho interessantes, sento no café da livraria e fico lá por horas...
Eu acho livraria uma delicia. Tenho a impressão que você sempre ganha quando entra em uma, mesmo que por osmose.Você acaba respirando cultura.
Pois então, eu fui com a Bubu (mulher do meu pai) e Julia (minha irmã de 1 ano e meio) no shopping, enquanto meu pai foi com Pedro (meu irmão de 8 anos) no Parque do Povo (na frente do shopping). Meu pai e shopping são coisas que não combinam. Pra falar a verdade, eu também não curto, mas pela família a gente vai.
Rodamos um pouco, demos aquelas olhadas pelas vitrines e fomos parar na democrática Livraria da Vila. Lá a Bubu foi pra sessão de crianças (que diga-se de passagem é INCRÍVEL) e eu fui olhar as prateleiras.
Escolhi uns 3 para folhear e fui pro café. Pedi um café e uma água e me acomodei. É tipo um comportamento default entre quem vai ali...
Acho que depois de 1h, meu pai me ligou:
- Marina, que shopping vocês estão?
- Ué, pai. Te mostrei, na frente do parque.
- Não... Mas só tem um aqui que tem a Versace na entrada. Vocês não tão aí...
- Sim, pai, é esse. Entra.
- Nesse, Marina? Mas onde vocês estão, minha filha? Nesse shopping?
- É, pai. Entra. Livraria da Vila. 4o. piso (acho).
Depois de uns 20 minutos, os dois chegaram no café.
- Levei o Pedro no banheiro... Que luxo...
- Senta, pai. Quer um café?
- Não, não, vou dar uma volta.
- Bubu tá com a Julia na área infantil...
Passa-se 10 minutos, voltam os quatro.
- Pai, quero um doce. Diz Pedro.
- Vamos ali dentro então ver o que tem...
E entraram na parte fechada do café, onde fica a vitrine de doces.
Cinco minutos, voltam ele e Pedro. Esse com um pedaço de bolo na mão.
- Tá bom, Pedro? Eu pergunto.
Meio indiferente, ele diz:
- Tá...
- Marina, agora você vê... um bolo de fubá! Olha o tamanho...
Pedro segurava o bolo com a palma da mão. Tinha o tamanho de um cartão de crédito mais ou menos...
- ã....
- Esse bolo! De fubá! R$9,70! Você acredita?
- Sério? Caro, né? Mas por que você comprou?
- Ué, Marina, o garoto querendo um doce... Ele já tinha escolhido, já tava com o bolo na mão, ué... Tem que pagar, né?
- Ah é....
- Olha, Bubu, o pedaço do bolo.... Nem oferece não, Pedro, se não você nem vai comer e a vontade vai continuar. Pior que é de fubá. Se ainda fosse nozes, avelã...
Claro, eu comecei a rir.
Normal de quem está começando doce...
- Pai, tá dando sede.
- Ihhhhhh... Vai esperar até a casa da Marina, Pedro. A água aqui deve ser cara também.
- É, acho que é R$6 300 ml.
- Quê???? Vambora, vambora... Aqui já deu.
E voltamos num táxi do shopping, com o taxista certamente achando que éramos a família Buscapé. Uma criança com um pedaço de bolo na mão, todo esfarelado; um senhor de aparência de vô com 3 pessoas de idades completamente diferentes chamando ele de pai; uma mulher negra e nova, chamando ele de amor; uma bebê mulatinha tocando o terror no carro, e eu, apertada na janela do lado direito do táxi, rindo que nem uma doida. Fiquei pensando que há alguns anos eu sentiria vergonha daquilo tudo. E eu tava li, adorando estar vivendo aquele momento.
Os anos passam, a gente fica mais velho, mas... Vale a pena. Com certeza.
Inesquecivel!!!!
ResponderExcluir