quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ela e a flor.

Você resolve mandar entregar um arranjo de flor surpresa pra sua mãe. Encomenda pela internet... Escreve um cartão… 

A entrega era pra dois dias depois, porque pro dia seguinte não dava mais. Tudo bem, não existia um motivo em si. Apenas uma filha tentando agradar a mãe à distância.

Passou o dia da entrega, e no dia seguinte, me toquei que não houve UM comentário sobre o assunto. Resolvi aguardar um pouco mais. 

Dá um tempo e o celular toca:
- Marina, você não acredita…
- O que, mãe?!
- Eu te contei que coloquei Claro fixo aqui, né? 
- Aham, disse. Mas ainda iam entregar o aparelho. Entregaram?
- Que nada…. Sabe o que eles fizeram? Me mandaram uma flor!!!!! Já viu, né? Nada de aparelho e flor…. 
- Como assim, mãe? 
- Ué, Marina, é isso! Nada de aparelho e uma flor…. Deve ser de boas vindas, sei lá. O aparelho deve estar em falta.... Já viu, né? Toma flor, toma flor...
- Mãe, mas deve ter um cartão…. Ou uma carta da Claro. Eles não iam mandar uma flor assim…
- Ué, Marina, a flor ta aqui! Você acha que é o que?
- Mãe, lê o cartão! Olha, não acredito…….

Depois de uns 3 minutos…

- Ahhhhhhh minha filha, foi você!!!!!!
- Foi, mãe. Não foi a Claro. 
- Ahhhhhhh minha filha……

Falamos mais sobre alguns assuntos rotineiros, e desligamos. Dá 15 minutos e recebo duas fotos no meu celular. Ela e a flor. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pedro e o anjos

Na última vez que estive no Rio, passei para pegar meus dois irmãos para tomar um sorvete. Minha mãe estava comigo. Ela adora ficar com meus irmãos quando está no Rio.


Resolvemos ir ao Rio Sul. Eu estava devendo um presente ao Pedro, e queria quitar esse job. 
Busquei os dois no Jardim Botânico e peguei a General Polidoro. Passamos na frente do cemitério São João Batista....

- Ihhhh olha um cemitério..! Disse o Pedro.
- Cadê...?? Julia olhou meio assustada....
- Alí ó! 

Eu e minha mãe ficamos quietas... Eu particularmente sempre tive medo de cemitério. E até hoje posso falar que não é um lugar que eu goste. Quem gosta, né? Acho que é um momento delicado, quando o ser humano fica cara a cara com a morte, mas sabe que não é a vez dele. 

Tentei ir o mais rápido possível para o cemitério ficar pra trás e evitarmos qualquer sentimento mais assustador. Mas então....

- Aí só tem anjo, né, Nanci?                    

Olhei pra cara da minha mãe e esbocei uma reação. Eu ia falar pro Pedro que não era bem assim, que ali tinham vários tipos de pessoas enterradas..... Mas achei melhor ficar na minha. Enquanto meu irmão puder achar que o mundo é feito de pessoas que viram anjos quando morrem, ele será mais feliz. 

Minha mãe percebeu minha mudança de atitude e riu....

- É, Pedro....Só anjos.



domingo, 9 de fevereiro de 2014

Gira, Perde e (Sor) Ri.

Era uma tarde de sábado quando resolvemos almoçar na Tijuca. O destino era o Rei do Bacalhau, na minha íntima Praça do Bodinho (Praça Xavier de Brito). Cresci indo ali e andando de bode... Sim, BODE. Hoje não vejo mais bode lá... Só tem cavalinho e cavalão. 

Pois então, marcamos de encontrar meu marido, minha sogra e meu sogro no restaurante. Eu fui de carro com a minha mãe. Eu dirigindo, claro. Ela sempre dirigiu, mas a carteira venceu faz tempo. E a minha chegou em Novembro. 

- Peraí, mãe, vou colocar o endereço no Wase.- Onde, Marina?- No Wase, mãe, é um aplicativo no celular que mostra o melhor caminho para o destino.- Como o melhor caminho?- Ué, ele pega dicas das pessoas e monta o caminho mais rápido pra se chegar a um lugar.- É mesmo, minha filha? Ah meu Deus...- É, mãe! Ó! Olha como ele vai guiando a gente. Segura o celular aqui pra me ajudar.- Tá.

E lá fomos nós três: eu, ela e a vozinha do Waze. 
- Ele fala é?? Ela, né? - Era uma voz feminina.- Você pode configurar pra falar...- Ah meu Deus... Que modernidade... No meu tempo não tinha isso não. A gente tinha que se virar...- É, eu sei. Devia ser horrível se perder, né?- Nossa, terrível...Wase: - Vire na próxima direita e depois na próxima esquerda.- Marina.... A mulher fala mesmo, né?- Aham...

Chegamos a uma rua que estava fechada. - Ihhhhhhhh, Marina, e agora?!?!?!- Calma, mãe, a gente vira aqui e ela recalcula.- É???????- Aham....

Como previsto, a partir do¨suposto¨ erro, o GPS automaticamente recalculou a rota- Gente....... Marina....!!

E seguimos. Com as dicas do Wase, ou da mulher que sabe tudo, como ela bem disse.
- Ela disse pra virar, ó...- Eu ouvi, mãe...- Vem cá, Marina, quando você tá sozinha, esse celular fica aonde, hein? - Aqui ó. Mostrei um lugarzinho ótimo pra apoiar o celular no carro.- Ah sei.... Olha lá, hein?!

E continuamos..... 
De repente, silêncio. E uma bifurcação. 

- Ué, e agora, Marina?- Calma, mãe, não sei.....

E o carro de trás deu uma buzinadinha.- Ahhhhh desgraçada.... E agora, hein? E agora? Pra onde a gente tem que ir?

Já rindo:- Calma, mãe.- Essa miserável veio falando coisas óbvias de Ipanema até aqui, agora quando a gente precisa ela fica calada? Palhaça!- Calma, mãe, você está me desconcentrando...- Vira pra direita, quando só se tem a direita pra virar. Se mantenha a esquerda, quando a direita vira contramão... Ahhhh, faça-me o favor, né? Isso aqui é um gira gira, se perde e ela ri ! Olha o bonequinho como ri....- Mãe...- Segue, Marina, segue. 


Depois de 5 minutos chegamos ao Rei do Bacalhau. Ela, irritadíssima com o GPS, mas concedendo algum ganho à tecnologia.



terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Clarice, Papai, China e Facebook.

Minha irmã viajou para Hong Kong para encontrar o namorado. A família naquela ansiedade há meses, vendo o que ela precisaria levar, decisões a tomar, vacinas obrigatórias... Dá trabalho ir pra China, viu?!

Clarice partiu numa segunda à noite. Voou 13h para a Etiópia, esperou 3h no aeroporto e pegou outro avião pra Hong Kong. Mais 10h de vôo…. O amor é lindo! <3

Teresa, mãe da Cla, levou ela no aeroporto com uma amiga. Eu fiquei pelo whatsapp dando um alô e tentando fazer a espera chata passar mais rápido. Meu pai ficou em casa com meus irmãos e a mulher, com notícias periódicas pelo celular.
Quando ela efetivamente embarcou, ligamos e avisamos a ele. 

- Pai, Clarice já foi. Vai dar notícias quando chegar. A gente te avisa.
- Ela vai ligar de lá? Ou levou o facebook?
- Oi…. pai….?!
- Ela levou o facebook pra China na mala?
- Pai…. Facebook é um programa virtual… Ninguém leva ele pra nenhum lugar. Ele simplesmente está lá.
- Tá AONDE?
- Ué… Na nuvem! É como se fosse um computador imenso, mas que não é físico.
- Ah… é?
- Aham! A Clarice acessa o facebook por um site e se loga. Pronto.
- Moderno, né?
- É, pai…. Tipo seu email do hotmail. Tá no mundo virtual.
- Entendi. Ou acho que entendi. Mas, bem, ela vai dar notícias, né? Vocês me falam….
- Com certeza, pai. Beijo!

Clarice chegou exausta mas inteira. Ele foi avisado e não fez mais nenhuma pergunta. Acho que nem ousaria... 
Vida que segue.