terça-feira, 17 de dezembro de 2013

My doter, my doter!


Já fui a NY três vezes. Adoro! Voltaria quantas vezes fosse possível. NY é a capital do mundo. Você vê pessoas do mundo todo e cultura do mundo todo. E claro, é um centro do consumismo. Odeio shopping, e não me julgo uma pessoa muito consumista, mas em NY as compras simplesmente acontecem. 



Bem, a primeira vez fui a NY foi com o meu pai. E pra quem não sabe, meu pai é sociólogo, professor de História e Geografia, guia turístico e colecionador de antiguidades. Hoje, ele tem um antiquário e trabalha só com isso. Só mais ou menos, porque trabalha se segunda a segunda. Guerreiro.

Viajamos em 2000. Eu estava no ano do vestibular e no 11º ano de Santo Agostinho. Um ano difícil. Meu pai propos viajar e eu adorei. Fiquei surpresa pois jamais pensei que viria do meu pai um convite para viajar aos Estados Unidos algum dia. Mas aconteceu.

Claro, que ir aos Estados Unidos com meu pai não é uma viagem "padrão", a que todo mundo faz. Ele dizia que o único lugar dos EUA que ele queria conhecer era NY; por causa da "cosmopolitaniedade" do local. 
- Nova Iorque está nos Estados Unidos, mas não é Estados Unidos.

Ok, eu queria mesmo é ir. Podia ser o que ele quisesse.

Ficamos em New Jersey, na casa do filho de um amigo do meu pai. As outras vezes que fui, fiquei em Manhattan, e definitivamente ficar em NJ não é a mesma coisa que ficar no centro de tudo. Mas estava ótimo! A gente ia e vinha todo dia a Manhattan de metrô. 30 minutos. Super fácil.

Eu fui a NY mais 2 vezes. Pude ter a certeza que ir com meu pai é uma experiência sem igual. Com os amigos você vai a museus, peças, exposições, mas também vai às compras. Com meu pai a negociação para as compras era diária e cansativa. Por ele, a gente só ia a museus, pontos turísticos e comia em lugares saudáveis. 

Para vocês não pensarem que eu sou uma alienada, todas as vezes que fui a NY fui a museus, peças e pontos turísticos (e não turísticos, que muitas vezes são bem mais legais que os lugares "tradicionais"). Em NY tudo muda o tempo todo. A NY de 2000 não era mais a NY de 2012. A cidade tem vida própria e é incansavelmente mutante. Acho que se você for todo ano a NY, você vai ver coisas diferentes sempre. Acho não, tenho certeza.

Pois bem, entre os museus, exposições e refeições sempre a base de comida, COMIDA, eu conseguia entrar em uma loja ou outra. A gente sempre tentava negociar uma forma de eu ir sozinha e ele fazer outra coisa. De vez em quando saía uma briga imensa porque eu queria entrar em alguma loja sem uma combinação prévia. Ele sempre discutia muito, dizia que ia me deixar sozinha e seguir pro destino. Eu dizia que tudo bem e entrava na loja em questão. Quando via, estava ele lá, entre uma prateleira ou outra, tentando se esconder. 

Meu pai é o famoso pai babão que se faz de duro. Às vezes ele é duro, mas acho que todo pai é. A grande questão é que ele é de esquerda e, no caso dele, ser duro é discordar de coisas que a maioria das pessoas fazem. Ex: ele nunca gostou que eu usasse roupa com palavras em inglês ou almoçasse no Mac Donald's. Até acontecia, mas tinha sempre um sermão acompanhado. 

Voltando pra NY... Combinamos um dia para eu ir e ficar um tempo razoável na Macy's. Pra quem não sabe, Macy's é uma loja de departamento que tem uns 6 andares. Qualquer pessoa (pelo o menos, qualquer mulher) fica enlouquecida la dentro. Combinamos um horário na porta da loja e nos separamos. 

Eu literalmente me joguei na Macy's. Nunca tinha visto algo como aquilo. Nem cheguei a subir; o primeiro andar me consumiu todas as horas que eu tinha para aproveitar a loja. 
Deu o horário marcado, e eu fui pra porta. Passam 5 minutos.... 10 minutos.... 15 ... 20 .... 30 .... 40 .... Bem, do jeito que meu pai é atrasado, eu supus que ele tivesse se perdido na hora, e entrei na loja novamente. 
Pensei: "Bem, eu tô aqui segura. Ele me acha." E fiquei no primeiro andar, vendo as milhões de lojas que tinham lá. 

Em algum momento, um vendedor me disse que eu tinha direito a descontos por ser turista e fui pegar o livreto de cupons dos descontos. (Essa é uma boa dica pra quem vai pra lá. Tudo pode e deve ter desconto.). 

Para pegar o livreto, tive que subir uma escada para um lugar específico de turistas. 
Lá dava pra ver o primeiro andar de uma forma geral....

De repente, olhei pra baixo e vejo meu pai adentrar (o que é BEM diferente de entrar) na Macy's. Ele estava acompanhado de uns 3 policiais nova iorquinos e andando muito rápido. 
Sabe aqueles que aparecem em filme policial? Eles mesmos. Iguaiszinhos. 


Por segundos eu achei que aquilo fosse um engano, que não era meu pai. Mas logo vi que era sim, e ouvi ele falando: "my doter, my doter". (Tô escrevendo dessa forma porque ele falava desse jeito. Exatamente assim: doter.)

Fui descendo as escadas pro primeiro andar e disse:
- Pai.......!?

Ele, e os três policiais, me olharam. 
- Mariiiiina! Minha filha! My doter! 
Mas ele falou alto,BEM ALTO. Quase todo o primeiro andar da Macy's parou para olhar a cena. 

Ele correu, me abraçou e ficou repetindo:
- Marina, Marina, my doter, minha filha....
Os três policiais ficaram olhando a cena. Eles e mais umas 200 pessoas.

Eu expliquei que fiquei na porta 40 minutos e resolvi entrar de novo. Claro que depois de saber que eu tava bem, ele ficou puto e disse que eu não tinha cumprido o que tínhamos combinado. Foi uma discussão de uns 10 minutos até entendermos que a loja tinham 4 entradas/saídas. Ele chegou no horário marcado em uma entrada e eu estava em outra. Simples e idiota assim. 

Você achou que acabou? Nananinanão.....

Um dos policiais veio falar comigo.
- Menina, seu pai disse que você poderia ter sido sequestrada. Aconteceu algo? Você está bem?

Sinceramente, eu não sei como meu pai falou de sequestro com os policiais. O inglês dele é básico, e ele só conseguia se comunicar misturando palavras e mímicas. Sofro em pensar como ele possa ter feito sequestro em gestos, meu Deus... Mas acho que no desespero as pessoas conseguem se comunicar. 

- Não, senhor, estou bem. Foi um mal entendido, desencontro. Respondi já rindo. 

Super sérios, eles fizeram sinal de "ok" com a cabeça e foram embora.

Ficamos eu e meu pai no meio da Macy's sob os olhos das pessoas. Me senti obrigada de falar alguma coisa...
- I'm ok, I'm ok.

Todos aplaudiram. Morrendo de vergonha, a gente saiu rápido da loja. Não ousei pisar mais lá. Ou melhor, não nessa viagem.
Voltei a NY em 2010, mas acho que ninguém lembrou de mim não.

domingo, 8 de dezembro de 2013

É nóis no metrô errejota!



Na última temporada que passei no Rio, fiquei quase 2 semanas na Cidade Maravilhosa. E para ser ainda mais maravilhosa, tive que a companhia da minha mãe nesse período. 

Aproveitamos para colocar várias coisas em dia, fazer o nosso bazar semestral e ir naqueles médicos que, por mais que a gente mude de cidade, a gente volta pra continuar indo neles.

Pois bem, minha mãe tinha uma consulta marcada pras 14h na Tijuca. Ela deu a ideia de ir de ônibus, mas eu logo cortei falando que era melhor pegar o metrô. Ela morre de medo, mas usa a desculpa (que eu até entendo e concordo) que se anda TANTO pra chegar ao vagão em algumas estações do metro do Rio que é melhor "sentar num ônibus e ir direto". Mas enfim, fomos de metrô. 

Andamos até a estação Cantagalo porque a General Osório está fechada. Compramos os bilhetes e eu perguntei pra vendedora: 
- Oi, eu to indo pra Saens Peña. É direto...? Mudou algo?

Perguntei isso porque tiveram umas mudanças no metrô do Rio, e como sou uma carioca morando em São Paulo, não acompanhei de perto quais foram. Bem, ela disse que estava tudo igual. OK! Fomos nós.

Entramos num vagão lindo, vazio, com o ar condicionar bombando. - Ai, Marina, nem acredito que a gente vai desse jeito...
- Pois é, sorte!

E começamos a conversar... Como ela não tinha lido o post da Família Buscapé, resolvi ler pra ela. O metrô demorou uns minutos, mas saiu. 


Como sei que a ida até a Tijuca dura pelo o menos 30 minutos, relaxei. O metrô andava, parava, andava de novo. Entrava gente, saia. Até que olhei rapidamente pela janela (aquela famosa conferidinha de estação)....

Vi "Siqueira Campos". Achei esquisito porque a gente já tinha andado e parado muito, mas cheguei a rápida conclusão que eu devia ter me confundido. Continuei lendo o texto.

Ela ria, eu ria, o metrô parava, andava.... E foi assim mais uns 5 minutos. 

De repente, eu olho pela janela e vejo: Estação Siqueira Campos. E todo mundo descendo.... 
- Mãe, tem alguma coisa errada. A gente andou andou e tá na Siqueira Campos...? Tem algo errado. 
- Ué, Marina... Ué, Marina.... O rapaz deve ter errado quando disse no alto falante.
- Não, mãe, tá alí ó: Estação Siqueira Campos. Eu li e reli várias vezes.

Por alguns segundos eu não entendi o que tava acontecendo e achei que tivesse louca.Até que uma senhora viu o nosso aparente desespero e chegou perto:
- Oi, posso ajudar?- Moça, por favor, a gente está mesmo na estação Siqueira Campos??? Porque a gente já andou taaaanto... Paramos em várias estações.... E ainda estamos aqui?- Sim, aqui é a Estação Siqueira Campos.

Minha mãe, no devaneio que o desespero dá, achou que entre Cantagalo e Siqueira Campos tinham umas 5 estações. Eu insisti:
- Mãe, Siqueira Campos é a estação seguinte a Estação Cantagalo. Não é, moça?
- É sim. E é aqui que vocês pegam a linha 1 (ou 2, sei lá) pra Tijuca.
- Ooooooooooooooooooooooooi? Como assim? Me assustei.
- É, esse trem só faz a viagem entre a estação Cantagalo e Siqueira Campos. Daqui, todos saem do vagão pra pegar a linha que desejam.
- Marina, eu não estou entendendo...... 
- Mas, peraí, moça. Então quer dizer que eu e minha mãe estamos indo e voltando do Cantagalo à Siqueira Campos????? Porque eu tenho certeza que já paramos pelo o menos umas 6 vezes. 
Rindo sem graça, ela disse:
- É, parece que sim. Mas eu tô indo pra Tijuca, vêm comigo.

Eu nem sei a cara que eu fiz quando ela disse isso. Foi uma mistura de "Ai Meu Deus" com uma gargalhada que não dava pra evitar. Já minha mãe...
- Marina, como assim?
- Vambora, mãe. É isso mesmo, ficamos indo e voltando. Vamos agilizar pra você não perder o médico.

Seguimos a moça e pegamos o metrô pra Tijuca. LOTADO, mas conseguimos sentar. Claro, minha mãe foi reclamando...
- Tá vendo, Marina? Eu não disse que às vezes é melhor sentar num ônibus e ir direto? Onde já sei viu, eles mudam tudo e não tem UMA plaquinha explicando isso. Ahhhh Meu Deus....

Enfim, chegamos 15 minutos atrasadas mas chegamos. Na volta deu tudo certo porque paramos em Botafogo. Não teve a famosa "baldeação". UFA!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Família Buscapé x JK Iguatemi

Pra minha completa felicidade (sem ironia), meu pai foi com a mulher e meus dois irmãos menores a São Paulo. Passaram uma semana na minha casa. Pra quem não sabe, eu e meu marido moramos num quarto e sala no Itaim Bibi. Sim, 6 pessoas num quarto e sala. E Clarice chegou no 4o. dia para completar a reunião familiar.


Mas então, num dia X, a mulher do meu pai quis conhecer o famoso shopping JK, um dos últimos shoppings construídos na cidade e o mais chique (acho). Só tem loja AAA... Versace... Dolce&Gabbana.... Aquelas lojas que nós, cidadãos comuns, raramente entramos. Na verdade, só entramos mesmo lá fora pra tentar comprar alguma coisa na Back Friday. Tipo, uma meia.
Ok, fomos. O shopping tem a sua parte "menos nobre", digamos assim. Eu adoro ir pra lá e sentar na Livraria da Vila, onde você pode ler um livro inteiro se quiser. A livraria é imensa e mais parece um museu com tantos livros e tantos corredores. Volta e meia, pego uns livros que acho interessantes, sento no café da livraria e fico lá por horas... 
Eu acho livraria uma delicia. Tenho a impressão que você sempre ganha quando entra em uma, mesmo que por osmose.Você acaba respirando cultura. 

Pois então, eu fui com a Bubu (mulher do meu pai) e Julia (minha irmã de 1 ano e meio) no shopping, enquanto meu pai foi com Pedro (meu irmão de 8 anos) no Parque do Povo (na frente do shopping). Meu pai e shopping são coisas que não combinam. Pra falar a verdade, eu também não curto, mas pela família a gente vai.

Rodamos um pouco, demos aquelas olhadas pelas vitrines e fomos parar na democrática Livraria da Vila. Lá a Bubu foi pra sessão de crianças (que diga-se de passagem é INCRÍVEL) e eu fui olhar as prateleiras.

Escolhi uns 3 para folhear e fui pro café. Pedi um café e uma água e me acomodei. É tipo um comportamento default entre quem vai ali... 

Acho que depois de 1h, meu pai me ligou:
- Marina, que shopping vocês estão?
- Ué, pai. Te mostrei, na frente do parque.
- Não... Mas só tem um aqui que tem a Versace na entrada. Vocês não tão aí...
- Sim, pai, é esse. Entra.
- Nesse, Marina? Mas onde vocês estão, minha filha? Nesse shopping? 
- É, pai. Entra. Livraria da Vila. 4o. piso (acho).

Depois de uns 20 minutos, os dois chegaram no café. 
- Levei o Pedro no banheiro... Que luxo...
- Senta, pai. Quer um café?
- Não, não, vou dar uma volta.
- Bubu tá com a Julia na área infantil...

Passa-se 10 minutos, voltam os quatro.
- Pai, quero um doce. Diz Pedro.
- Vamos ali dentro então ver o que tem...
E entraram na parte fechada do café, onde fica a vitrine de doces.

Cinco minutos, voltam ele e Pedro. Esse com um pedaço de bolo na mão.
- Tá bom, Pedro? Eu pergunto.
Meio indiferente, ele diz: 
- Tá...
- Marina, agora você vê... um bolo de fubá! Olha o tamanho... 
Pedro segurava o bolo com a palma da mão. Tinha o tamanho de um cartão de crédito mais ou menos...
- ã....
- Esse bolo! De fubá! R$9,70! Você acredita?
- Sério? Caro, né? Mas por que você comprou?
- Ué, Marina, o garoto querendo um doce... Ele já tinha escolhido, já tava com o bolo na mão, ué... Tem que pagar, né?
- Ah é....
- Olha, Bubu, o pedaço do bolo.... Nem oferece não, Pedro, se não você nem vai comer e a vontade vai continuar. Pior que é de fubá. Se ainda fosse nozes, avelã...
Claro, eu comecei a rir.

Normal de quem está começando doce...
- Pai, tá dando sede.
- Ihhhhhh... Vai esperar até a casa da Marina, Pedro. A água aqui deve ser cara também. 
- É, acho que é R$6 300 ml. 
- Quê???? Vambora, vambora... Aqui já deu.

E voltamos num táxi do shopping, com o taxista certamente achando que éramos a família Buscapé. Uma criança com um pedaço de bolo na mão, todo esfarelado; um senhor de aparência de vô com 3 pessoas de idades completamente diferentes chamando ele de pai; uma mulher negra e nova, chamando ele de amor; uma bebê mulatinha tocando o terror no carro, e eu, apertada na janela do lado direito do táxi, rindo que nem uma doida. Fiquei pensando que há alguns anos eu sentiria vergonha daquilo tudo. E eu tava li, adorando estar vivendo aquele momento.

Os anos passam, a gente fica mais velho, mas... Vale a pena. Com certeza.